Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Mensalão as prisões
Juízes criticam substituição do responsável pelos presos
Encarregado da execução das penas foi trocado após desavenças com STF
Associações condenam mudança sem justificativa e cobram esclarecimento de Joaquim Barbosa
Associações de magistrados atacaram ontem a substituição do juiz do Distrito Federal responsável pela execução das penas dos condenados do mensalão. Ele foi trocado no fim de semana, após desavenças com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.
A decisão de substituir o juiz titular da Vara de Execuções Penais de Brasília, Ademar Vasconcelos, foi tomada pelo TJ-DF (Tribunal de Justiça do Distrito Federal) sem justificativas.
O presidente eleito da Associação dos Magistrados do Brasil, João Ricardo Costa, disse ver "com preocupação" a substituição e afirmou que um juiz só pode ser afastado se for comprovada alguma irregularidade. Ainda assim, disse, só após a instauração de um procedimento com garantia de ampla defesa.
"Não pode um despacho afastar um juiz de um processo sem justificativa", afirmou Costa, que assume a direção da AMB em dezembro. "Isso transmite a posição de que juiz que não decidir de acordo com o interesse desse ou daquele pode ser afastado."
Vasconcelos queixou-se publicamente por não ter recebido instruções de Barbosa após a decretação das prisões e divergiu do presidente do STF sobre a melhor maneira de lidar com os problemas de saúde do ex-deputado José Genoino, um dos presos.
Quem assumiu as funções de Vasconcelos foi o juiz substituto Bruno André Ribeiro, que é filho de um deputado distrital do PSDB.
A Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul também criticou a medida. Após observar que nem Barbosa nem o TJ "desmentiram" a informação de que a troca fora motivada pela insatisfação do presidente do STF, nota da associação disse que "não cabia" a Barbosa escolher outro juiz.
Outra entidade que manifestou contrariedade foi a Associação de Juízes para a Democracia. Em nota, a presidente Kenarik Boujikian disse que não se aceita mais "coronelismo no Judiciário" e cobrou "esclarecimentos".
Se o presidente do STF não der explicações sobre o que ocorreu, afirmou a associação de juízes, ficaria "sujeito à sanção equivalente ao abuso que tal ação representa".
A entidade acrescentou que o caso tem proporção ainda maior porque Barbosa acumula hoje a presidência do Conselho Nacional de Justiça, que fiscaliza o Judiciário.
A assessoria de imprensa do STF informou que Barbosa não iria se manifestar sobre o assunto por considerá-lo de responsabilidade do TJ.
Por meio de uma nota ontem à noite, o TJ afirmou que a atuação de Ribeiro, o substituto, faz parte da rotina da corte e está "dentro do ordenamento jurídico nacional".
"A delegação remetida pela Presidência do STF [...] foi dirigida ao Juízo da VEP/DF e não elegeu nem excluiu qualquer dos magistrados ali lotados", diz trecho da nota.
Desde que assumiu a presidência do STF, há um ano, Barbosa mantém relação conturbada com associações de juízes e advogados. Em abril, chegou a discutir numa reunião com representantes dos juízes, acusando-os de agir de forma "corporativista".
O principal ponto de discórdia era a criação de novos Tribunais Regionais Federais, contestada pelo ministro e apoiada pelas entidades.
Após o encontro, as associações divulgaram nota afirmando que Barbosa tinha "enorme dificuldade" de conviver com quem pensa de modo diferente.