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Deixar o governo é alívio, diz Anastasia
Governador tucano de MG, que deve sair em março para disputar o Senado, fala do cansaço em exercer o cargo
Para ele, caso do mensalão do PSDB é diferente do petista e não terá impacto eleitoral relevante
"Outra coisa que desgasta é a incompreensão. As pessoas imaginam que o governador, o prefeito, o presi-dente pode muito. Fazem os pedidos mais impossíveis do mundo. Eu não tenho muito estilo ou a paciência de falar que vou tentarANTONIO ANASTASIA (PSDB)governador de Minas Gerais
O governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB) deve deixar o cargo no fim de março para disputar o Senado. Sairá a contragosto, já que nunca almejou o Legislativo. Apesar disso, demonstra que não terá saudades do comando do Executivo: "Acho que é mais alívio do que [sentimento de] falta".
Advogado e professor visto como quadro técnico, ele admite o cansaço de três mandatos seguidos (o atual, um como secretário de Planejamento e coordenador-geral e outro como vice de Aécio Neves). Reclama dos eventos noturnos, do salário e da incompreensão das pessoas com o alcance do governador.
Folha - O sr. está próximo de deixar o governo. O que gostaria de fazer?
Antonio Anastasia - Desde o início nunca tive pretensões de ser governador. Minha carreira é voltada para a administração pública, em cargos em comissão de natureza política. As circunstâncias me levaram a vice e, depois, a governador. Minha pretensão inicial era concluir o mandato. Mas surgem solicitações para que eu deixe o governo no fim de março para a candidatura ao Senado. Como sou governador não por minha vontade, mas de um grupo político, tenho responsabilidades e deveres.
É bom ser político?
É bom, a despeito da imensa incompreensão. A imagem do político é muito ruim. Quanto mais fica ruim, mais afugenta gente de bem e profissionais gabaritados. O exercício dos cargos públicos tem muito mais ônus do que bônus. Um peso enorme de responsabilidade que assusta e espanta as pessoas, associado a uma remuneração muito baixa [R$ 10,5 mil para ele]. É muito baixo.
Na segurança, em 2005, a taxa mensal de crimes era de 45 por 100 mil, caiu para 20,8 em 2010. No mês passado foi a 39,3. O que aconteceu?
Difícil identificar uma causa. Temos as drogas. Tivemos diminuição no fluxo de acréscimo de efetivos das polícias. A partir de 2011, com a política de aumentos expressivos, houve opção: ou dá aumento [salarial] ou aumenta o efetivo. E a população cresceu. Não é uma coisa isolada de Minas. É evidente que temos um problema grave.
Quais as maiores frustrações?
Não vou dizer que é uma frustração. A segurança, de fato, nos decepciona. E nos quatro anos desse mandato, tivemos período muito adverso em termo de recursos. O Brasil virou completamente.
Nas manifestações de junho, o sr. temeu pelo pior?
O pior aconteceu. Duas pessoas faleceram porque caíram [de um viaduto]. Tivemos patrimônio depredado, cenas bárbaras, tensão.
Que lição tirou?
A primeira é que sempre prevalece o imponderável. A Copa das Confederações foi imaginada no mínimo detalhe, mas o imponderável surge, de maneira lícita, legítima, da manifestação. O segundo é que devemos ter sempre diálogo.
O ex-ministro Pimenta da Veiga será o candidato ao governo de Minas pelo PSDB?
Não tem resposta. Se afunilam dois nomes pelo nosso partido: o do Pimenta e o do deputado Marcus Pestana.
Acha que o julgamento do mensalão tucano pode prejudicar o PSDB em 2014?
Lia nos jornais que o homem médio não se incomoda com isso. Não vi efeito do julgamento do mensalão nas eleições municipais. Em um determinado público atinge, porque são comportamentos julgados e condenados como criminosos. A questão que aconteceu aqui, na eleição do [ex-] governador Eduardo Azeredo, me parece muito distinta. Usam o nome mensalão, mas não é isso que se relata no inquérito. As pessoas vão perceber o desdobramento muito diferente.
Do que o sr. mais vai sentir falta quando deixar o governo?
Eu acho que é mais alívio do que falta. Eu vou sentir falta do convívio com tanta gente. Gosto de ir ao interior e conversar com as pessoas.
Do que sentirá menos falta?
Da quantidade de compromissos, especialmente à noite, que são numerosos. Cansa demais, são protocolares, tem que ir. Outra coisa que desgasta é a incompreensão. As pessoas imaginam equivocadamente que o governador, o prefeito, o presidente pode muito. Fazem os pedidos mais impossíveis do mundo. Eu não tenho muito estilo ou a paciência de falar com a pessoa que vou tentar [atender aos pedidos]. Desgasta porque as pessoas ficam assustadas.