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Cardeal franciscano

Tido como 'conservador moderado' e 'reformista', arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, tem perfil que lembra o do papa Francisco

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mais novo cardeal brasileiro, dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, tem um perfil que lembra, em alguns pontos, o do papa Francisco, e que se encaixa na visão do pontífice para o futuro da Igreja Católica.

O prelado brasileiro já dedicou boa parte de sua atenção pastoral a comunidades carentes e à questão ambiental, dois temas-chave do pontificado de Francisco. Embora seja monge da Ordem Cisterciense, uma das mais antigas e ilustres da igreja, está acostumado a usar a TV e a internet como instrumentos de evangelização (segundo colegas, é usuário contumaz do aplicativo de mensagens instantâneas Whatsapp).

Ao mesmo tempo, sempre se mostrou totalmente ortodoxo em questões como a oposição católica ao aborto, chegando a confrontar o então ministro da Saúde José Gomes Temporão em 2007.

"Eu diria que ele é um conservador moderado, um reformista, bem a cara de Francisco", afirma Rodrigo Coppe Caldeira, professor de ciências da religião da PUC de Minas Gerais. "É bastante atento ao papel das Comunidades Eclesiais de Base, da Renovação Carismática e de todas as facetas da igreja do Brasil."

A trajetória religiosa de dom Orani começou em 1968, quando ele ingressou na abadia cisterciense de São José do Rio Pardo (SP), sua cidade natal. Lá, dom Orani chegaria a abade (líder dos monges da abadia), cargo que hoje é ocupado por dom Paulo Celso Demartini, conterrâneo e antigo pupilo do cardeal, que celebrou sua primeira comunhão e o crismou. "Para mim, ele é ao mesmo tempo um pai, um irmão e um amigo", afirma o atual abade.

Em suas homilias, dom Orani costuma citar São Bernardo de Claraval (1090-1153), o mais famoso cisterciense da história. Dom Paulo diz que o santo ajudou a inspirar o cardeal tanto no interesse por comunicação quanto na preocupação com a pobreza: "São Bernardo já dizia que era preciso sentir junto' com toda a igreja. Os cistercienses surgiram justamente para voltar às raízes do ideal de pobreza cristã".

Entre outras influências importantes para o cardeal, diz dom Paulo, estão o papa Paulo 6º (1897-1978), responsável por concluir o Concílio Vaticano 2º, que abriu o catolicismo ao diálogo com o mundo moderno nos anos 1960; e teólogos como o francês Teilhard de Chardin (1881-1955), que tentou uma ousada fusão entre a fé cristã e a teoria da evolução. "Ele também tem um amor muito grande pela liturgia [em mosteiros, tradicionalmente cantada em latim pelos monges], embora seja um pouco desafinado", confidencia o abade.

Em seus quatro anos chefiando a Arquidiocese de Belém, a principal da Amazônia, o arcebispo teve de lidar com o envolvimento de religiosos nos conflitos fundiários e ambientais da região.

Dom Orani celebrou em 2005 a missa de corpo presente da freira americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, morta no Pará por defender comunidades da floresta e tentar evitar o desmatamento. "Eles disseram que ela foi parada porque tinha armas. Ela abriu a bolsa e mostrou a Bíblia. Essa era sua única arma, e mesmo assim a mataram", declarou à época.

Com a chegada do cisterciense ao cardinalato, seu confrade lembra que uma espécie de madrinha espiritual de dom Orani em São José do Rio Pardo, Maria de Lourdes Fontão, vaticinana um posto ainda mais alto para ele. "Ela dizia: Esse menino vai longe, vai ser bispo e vai ser papa', coisa que ele nunca levou a sério", diz dom Paulo.

Mesmo após dois arcebispados, o abade diz que a modéstia é a mesma. "Visitei-o depois de ele ir para o Rio e ele comentou: Paulinho, por favor me diga uma coisa: por que me mandaram para cá? Eu não estudei, não fiz mestrado nem doutorado'."


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