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Médico do Exército nega ter feito laudo sobre preso torturado
Coronel reformado Hargreaves Rocha afirma que atuou como clínico e pediatra, mas nunca como médico legal
Nome do militar constava do laudo sobre a morte de Severino Colou, morto na sede da Polícia do Exército
O depoimento do coronel médico reformado Hargreaves de Figueiredo Rocha, 82, em sessão da Comissão Nacional da Verdade (CNV), ontem, provocou constrangimento entre os presentes.
Intimado a explicar sua atuação na confecção de laudo de necropsia sobre a morte de Severino Viana Colou, assassinado sob tortura, o militar disse que nunca elaborou tal documento.
O nome de Rocha consta do laudo de necropsia da morte do militante do Comando de Libertação Nacional (Colina), morto em 1969 na sede da Polícia do Exército.
O militar negou ter elaborado o documento, que omitia as torturas a Colou. Ele disse que atuou no Hospital Central do Exército (HCE) na clínica médica e na pediatria.
"Nunca trabalhei com medicina legal. Vocês estão completamente equivocados. Essa comissão é de verdade? Pode rasgar esse papel e jogar no lixo porque é mentira", disse o coronel reformado.
A negativa surpreendeu membros da CNV e das comissões estaduais do Rio e Pernambuco, que também estavam na sessão. O perito da CNV, Pedro Cunha, disse que o documento oficial do HCE não continha, aparentemente, a assinatura de Rocha. O nome aparecia no documento à máquina de escrever.
"Como o seu nome foi parar nesse documento? Usaram o seu nome indevidamente?", questionou Cunha.
"Não tenho ideia. Vou até procurar a Justiça para saber como atuar", disse o militar.
Antes do militar, o ex-dirigente do grupo VAR-Palmares, Antônio Espinosa, descreveu o caso de Chael Charles Scheirer, que chegara morto ao hospital após tortura. A resposta do médico chocou os presentes: "Pelas coisas que ouvi aqui nesta sala parece que servi em outro Exército. Estive no Exército por quase 30 anos e nunca vi nada do que foi dito", disse.
As comissões farão exame grafotécnico nas rubricas do laudo para comparar com assinaturas do militar. Eles levantaram a hipótese de uso indevido do nome para ocultar os autores do documento.
Outros dois convocados, o capitão Celso Lauria e o sargento Euler de Moraes, não apareceram.