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Janio de Freitas

Joaquim e Felipões

Um movimento contra o preconceito racial pode constituir-se em uma força política gigantesca

Parece ponto final: "Não serei candidato a presidente, realmente não quero". Mas pode ser o início de um novo capítulo do mesmo enredo.

As negativas do ministro Joaquim Barbosa, a respeito de possível candidatura à Presidência, têm tanta firmeza quanto, de repente, dubiedade: "não penso nisso ainda" é uma frase em aberto, por ele repetida em inúmeras ocasiões. A força que parece haver em "não penso nisso" está, de fato, em "ainda".

À "Época", o ministro disse que não se vê na política. "Não me vejo fazendo isso. O jogo da política é muito pesado, muito sujo." Verdadeiro no geral e definitivo no particular, não? Ou só em parte: "Acho que não seria apropriado eu, como presidente do Supremo, sair por aí fazendo negociações políticas. No dia em que sair daqui, estarei livre para fazer isso". A política está no futuro, portanto.

Mas o plano anunciado, para o imediato Joaquim Barbosa liberado do Supremo, é outro: dedicar-se a um projeto em defesa da igualdade racial. Ideia com duas vertentes, uma pública e uma particular.

Um projeto assim daria sentido, por sua utilidade, ao prestígio que o papel mais de promotor que de juiz deu a Joaquim Barbosa no chamado julgamento do mensalão. Tipos como Felipão, para quem questionar o racismo "é uma bobagem, não deveríamos nem debater isso, não adianta punir, a solução é ignorar", podem praticar sua mentalidade retardada, assim tão à vontade, porque o ambiente lhes é favorável. Ou inofensivo. Outros são os ofendidos. Resta saber com que mentalidade o próprio Joaquim Barbosa pensa o seu projeto e o efetivaria.

Na segunda vertente, um movimento contra o preconceito racial pode constituir-se em uma força política gigantesca, pela dimensão e pela influência, eleitoral e mais que isso. Para quem sente desprezo pelos partidos vigentes, um forte movimento negro não precisaria de nenhum deles para nada: pode ser e ter o seu próprio partido. Atraente onde quer que o preconceito racial tenha doído em alguém. Ou seja, no Brasil todo.

No governo Kennedy, primeiros dos anos 1960, um estudo conduzido por Robert McNamara, secretário de Defesa, concluiu que em 20 anos os negros estariam em condições de eleger um negro presidente dos Estados Unidos. Foram necessários mais 20, mas o estudo teve efeito poderoso. O governo Kennedy, tomado do temor de que em duas décadas, menos de uma geração, o poder estivesse em mãos do ressentimento negro, considerou urgente começar a ruptura dos grilhões segregacionistas mantidos pelos brancos. E rompeu muitos deles, no ensino, nos transportes, no comércio, em calçadas mesmo.

Sem falar em movimento contra o preconceito racial Joaquim Barbosa já motivara temores por aí, só pela combinação de sua demonstrada truculência e dos boatos sobre candidatura à Presidência.


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