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Chefes militares sabiam do Riocentro, diz Comissão

Almirante Bierrenbach disse ter sido 'uma burrice do Exército' tentar encobrir o atentado no Rio, classificado por ele de 'terrorista'

BERNARDO MELLO FRANCO DO RIO

A Comissão Nacional da Verdade afirmou ontem ter reunido indícios de que altos oficiais do Exército sabiam previamente do atentado do Riocentro, em 1981.

O objetivo da ação era retardar o fim da ditadura e a redemocratização do país. O plano deu errado porque uma bomba explodiu acidentalmente, matando o sargento Guilherme do Rosário.

A comissão fez uma homenagem ao almirante Julio de Sá Bierrenbach, 95, que há 33 anos enfrentou a pressão da ditadura e votou contra o arquivamento do caso no STM (Superior Tribunal Militar).

Ele não compareceu à sessão por motivo de saúde, mas se disse satisfeito com o esclarecimento do caso.

"Foi uma burrice do Exército tentar encobrir o Riocentro. Aquilo foi um atentado terrorista, mas o tiro saiu pela culatra", disse à Folha, em seu apartamento em Copacabana, zona sul do Rio.

O almirante afirmou estar certo de que Rosário e o então capitão Wilson Machado seguiam ordens superiores ao levar bombas para o Riocentro, onde um show reunia mais de 20 mil pessoas.

"Fizeram tudo para dizer que o capitão e o sargento fossem vítimas. Vítimas de quem? Eles causaram o atentado", disse Bierrenbach.

O relatório da Comissão da Verdade diz que altos oficiais do Exército ajudaram a planejar as explosões e agiram para impedir a investigação do caso depois que o plano deu errado.

"As explosões do Riocentro foram fruto de um minucioso e planejado trabalho de equipe, que contou com a participação de militares, especialmente ligados ao 1º Exército e ao SNI (Serviço Nacional de Informações)", afirma o documento.

O texto classifica o caso como um ato de "terrorismo de Estado contra a população". O coordenador da comissão, Pedro Dallari, ressaltou que ao menos outras 40 bombas explodiram no mesmo contexto, entre 1980 e 1981.

"Ficou claro que se tratava de uma política de Estado, e não de uma ação isolada de alguns lunáticos ou psicopatas", disse Dallari.

"O atentado do Riocentro fez parte de uma política de Estado patrocinada com agentes públicos e financiada com recursos públicos, contra a população."

Convocado a depor, o hoje coronel Machado não foi encontrado pela Polícia Federal ontem de manhã em sua casa, na zona oeste do Rio.

A comissão informou que ele será obrigado a falar em breve. O grupo também quer ouvir o general reformado Newton Cruz, então chefe da agência central do SNI, que alegou razões de saúde para não depor.

Em março, Cruz disse à Folha que soube do atentado com cerca de duas horas de antecedência e sustentou a versão de que os militares não queriam matar ninguém.


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