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Analistas veem crise sindical em paralisações

Para eles, há uma distância maior entre a direção das entidades e o trabalhador

Exposição da Copa intensifica fenômeno; sindicalista discorda e afirma que greve de ônibus foi fato isolado

CLAUDIA ROLLI ANDRÉ MONTEIRO DE SÃO PAULO

A greve de motoristas de ônibus que parou São Paulo por dois dias e depois se espalhou por outros municípios da região metropolitana expôs uma crise no sindicalismo que pode se alastrar para outras categorias e chegar a mais regiões do Brasil.

Especialistas acreditam que haja uma distância entre trabalhadores e cúpulas sindicais, mais preocupadas com cargos em governos.

E que a situação é agravada pela proximidade da Copa, uma oportunidade rara de dar visibilidade a demandas trabalhistas, com os governos pressionados a resolver conflitos com urgência.

O movimento começou na manhã de terça (20), quando funcionários da viação Santa Brígida cruzaram os braços em protesto contra o acordo coletivo aprovado pelo sindicato na noite anterior.

O acordo com as empresas foi de 10% de reajuste salarial, menos do que o pedido (13%), mas o dobro da primeira oferta patronal (5%).

Valdevan Noventa, presidente do sindicato, disse que foi surpreendido com a paralisação, que acreditava se tratar de um ato isolado. Mas o movimento foi se espalhando no boca a boca, chegou às empresas Gato Preto e Sambaíba e tomou a cidade.

Para o cientista político Rudá Ricci, a tensão que ocorre hoje entre base e a cúpula é resultado de um sindicalismo que se preocupou mais em se alinhar ao governo, ocupar cargos nas estatais e em incorporar pautas distantes do dia a dia dos trabalhadores.

Essa transformação que ganha força no Brasil já ocorreu nos anos 1990 na Europa. "O que vemos agora nas ruas é uma radicalização de movimentos, que tendem a se acentuar. Ainda é cedo para avaliar quem ganha e quem perde, mas as principais centrais sindicais vão reagir."

Para Ricardo Antunes, professor da Unicamp, a greve deve ser analisada no contexto de insatisfação crescente desde os protestos de 2013 e tem um elemento peculiar: a proximidade com a Copa.

"Os trabalhadores, cansados da tutela sindical, percebem que podem se beneficiar desse momento de maior exposição, principalmente os setores que mais afetam a vida urbana. A Copa cria urgência", disse Antunes.

Representantes das centrais sindicais não concordam com a visão dos teóricos. "O caso dos motoristas é isolado. Houve uma disputa de poder no comando da entidade", diz Ricardo Patah, presidente da UGT, central do sindicato de motoristas.

"É claro que os sindicatos precisam se modernizar, mas discordo que estejam distantes do trabalhador. A taxa de sindicalizados no Brasil é de 20%, enquanto a média mundial é de 7%", afirma. Também ressalta que as pautas se ampliaram: "Não é preciso ficar preso ao chão da fábrica".

Luiz Antonio Medeiros, ex-líder da Força e que hoje representa o Ministério do Trabalho em SP, diz nunca ter visto "tanta radicalização".

Para ele, o sindicalismo está atrasado. "Os dirigentes deviam prestar menos atenção em recursos [contribuições sindicais] e mais na corrente que vem de baixo."


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