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Análise - Copa e eleições

Tensão política causada pela Copa é inédita e terá reflexos

Falhas na organização do evento e protestos vão ecoar até outubro

OS QUE IMAGINAM BRASILEIROS HIPNOTIZADOS, SEM PENSAR EM OUTRA COISA, ESQUECEM QUE HOUVE CALOR EM OUTRAS ELEIÇÕES DISPUTADAS EM ANOS DE COPA

MAURO PAULINO DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA

O Brasil não para durante a Copa do Mundo e o eleitor, mesmo quando empolgado ou decepcionado com a seleção brasileira, continua atento aos fatos que definem suas opções políticas.

Os que imaginam brasileiros hipnotizados, sem pensar em outra coisa, esquecem que em quatro das cinco eleições disputadas em anos de Mundial houve calor eleitoral enquanto imperava o clima de Copa do Mundo.

Essas mudanças refletiram reações dos eleitores a fatos políticos e econômicos ocorridos paralelamente às atuações da seleção.

Desta vez, organizada pelo Brasil, a Copa se entrelaça com a conjuntura, potencializando a possibilidade de influenciar o processo eleitoral.

O balanço que os brasileiros farão da organização do evento, da reação dos governos aos prováveis protestos e mesmo do empenho dos jogadores reserva uma tensão política inexistente nas disputas anteriores.

Cresce nas redes sociais, habitat da classe média descontente, a discussão sobre a conveniência ou não de torcer pela seleção brasileira. É um debate que lembra o ocorrido em 1970, quando a disputa coincidiu não com eleições, mas com o período mais duro da ditadura militar.

Durante as Copas pós-redemocratização, os brasileiros reagiram aos fatos. Em 1º de julho de 1994, três dias antes de a seleção disputar as oitavas nos EUA, Itamar Franco lançou o Plano Real.

A vantagem de 22 pontos percentuais de Lula sobre FHC apurada uma semana antes do início da Copa dos EUA despencou para apenas três pontos, em levantamento efetuado uma semana depois de o Brasil conquistar o título mundial.

Em 1998, Lula só ameaçou a liderança de FHC, ao empatar com ele, durante a realização do Mundial da França. Foi reflexo da imagem de inoperância do governo diante da seca nordestina e de uma declaração do presidente sobre aposentados que incluiu o termo "vagabundos".

Em 2002, durante a Copa da Coreia do Sul e do Japão, Ciro Gomes cresceu e empatou com José Serra na segunda colocação. Logo após o torneio, durante as comemorações do título, Ciro encostou em Lula. Depois despencou, vítima das próprias declarações na mídia.

A disputa de 2006 foi a exceção: nem a Copa da França, nem a eleição despertaram grandes reações.

Já na eleição de 2010, o momento mais acirrado da disputa entre Dilma --a candidata até então desconhecida de Lula-- e Serra ocorreu durante o período da Copa da África do Sul.

Hoje, o Brasil não está para samba, especialmente segundo os que integram a classe média urbana tradicional, com seu poder de influência e reverberação.

Estes, juntamente com os visitantes estrangeiros, são os que lotarão os estádios, prontos para reagir às eventuais desorganizações, à Fifa e à presença de políticos de qualquer nível e sigla.

O hino será belo, mas as vaias surgirão a qualquer descuido e poderão ecoar até outubro, para todos os lados.


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