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O jeito de Aécio

Ao unir os tucanos em torno de sua candidatura presidencial, senador mineiro afastou rivais e mostrou que não faz amigos na política

DANIELA LIMA DE SÃO PAULO

Na década de 1990, Adelmar Sabino era o funcionário mais poderoso da Câmara dos Deputados. Diretor-geral da Casa por 18 anos, prestava favores aos parlamentares, conhecia sua intimidade e era retratado como "intocável".

Líder do governo Fernando Henrique Cardoso na Câmara (1997 a 2000), o então deputado Aécio Neves se aproximou de Sabino. Ficaram amigos. Em 2001, o tucano assumiu a presidência da Casa. Mandou chamar Sabino.

"Vai me demitir, né?", perguntou o diretor. "Vou", respondeu Aécio. "Você sabe, não dá para dois mandarem."

A facilidade com que atrai pessoas para promover seus interesses é uma marca na trajetória do senador Aécio Neves da Cunha. A maneira cirúrgica como arquiteta a remoção dos obstáculos que aparecem, também.

Ele se tornará oficialmente o candidato do PSDB à Presidência neste sábado (14). Na convenção que selará a indicação, aliados e desafetos discursarão para exaltá-lo.

A unidade alcançada por Aécio, inédita na história recente dos tucanos, é resultado de uma partida que começou em 2010, quando a petista Dilma Rousseff derrotou o ex-governador José Serra (PSDB) e se elegeu presidente.

Aécio assistiu pela televisão em sua fazenda, na cidade de Claudio (MG), ao discurso em que Dilma celebrou a vitória. Serra, ao admitir a derrota, frisou a ausência de Aécio na campanha e disse que iria lutar para continuar liderando a oposição.

Os dois travaram uma disputa pesada pela indicação do partido ao Planalto em 2010. Aécio se retirou do duelo. Concorreu ao Senado por Minas, Estado que governou de 2003 a 2010, e se elegeu.

CONTROLE

A mudança para Brasília abriu caminho para Aécio assumir o controle do partido. Em 2011 ele articulou a escolha dos líderes do PSDB no Congresso e, com a cobertura de Fernando Henrique Cardoso, bancou a reeleição do deputado Sérgio Guerra (PE) à presidência do partido.

Aliados de Serra tentaram lançar seu nome para o comando do partido, sem sucesso. Depois, o ex-governador paulista manifestou pretensão de chefiar o Instituto Teotônio Vilela, centro de debates do partido.

"Não pode mais haver espaço para divisão", argumentou Aécio numa conversa privada. "Se é para ganhar, vamos ganhar tudo." E fez do aliado Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente da entidade.

Guerra assumiu o PSDB pregando "renovação". Meses depois, FHC disse que Aécio era "o candidato óbvio" dos tucanos para o Planalto.

"Parecia necessário apresentar uma candidatura nova, não por falta de bons candidatos que já se houvessem apresentado, mas pela predisposição do eleitorado à renovação", disse o ex-presidente à Folha, por e-mail.

DIVISÃO

O passo seguinte foi dado em 2013. Guerra e FHC pressionaram Aécio a assumir a presidência do PSDB. O mineiro foi convencido após o deputado, que morreu este ano, dizer que sem esse gesto, sempre haveria "dúvida" sobre suas pretensões.

No comando da sigla, Aécio elegeu como prioridade conquistar São Paulo, base dos últimos candidatos do PSDB à Presidência, Serra e o governador Geraldo Alckmin.

Com a ajuda de FHC, fisgou um a um os aliados de Serra. A mais notável das conquistas foi o senador Aloysio Nunes, que hoje é cotado para vice de sua chapa.

Quando percebeu a hegemonia de Aécio, Serra ameaçou deixar o PSDB. Depois, insinuou que poderia disputar uma prévia com Aécio. Desistiu das duas ideias.

Após a asfixia na máquina partidária, este ano o paulista considera concorrer a deputado ou senador. Seus aliados lançaram seu nome como possibilidade para a vice de Aécio. A articulação não prosperou, mas serviu para reaproximar os dois.

Serra foi convidado a colaborar com o programa de governo tucano e agora é apontado como "ministeriável" caso Aécio seja eleito.

À Folha, Serra deu apenas uma fala sobre o antigo rival: "Uma das qualidades do Aécio é compor grandes equipes. Ele se cerca dos melhores".

Aliados atribuem a habilidade do senador à convivência com o avô, Tancredo Neves, que convocou Aécio à vida pública quando o mineiro tinha 22 anos, vivia no Rio e se interessava mais pelo mar do que pela política.

"O poder exige liturgia", disse Tancredo a ele depois de mandá-lo sair de uma reunião do secretariado porque apareceu sem gravata. "Nunca leve os amigos do bar para o governo, nem os amigos do governo para o bar", ensinou em outra ocasião.

Os melhores amigos de Aécio estão fora da política e são mais conhecidos por serem famosos e bem nascidos, como o empresário Alexandre Accioly e o apresentador Luciano Huck, com quem viajou e frequentou festas.

A vida privada do senador serve de munição aos adversários. O tucano move processos contra detratores que vinculam seu nome ao uso de drogas na internet.

"Tenho 34 anos de vida pública. Não tem nada, zero. Se buscarem o passado, vão achar vídeos, sim, mas de beijos em mulheres. Se isso tirar votos, estou frito", comentou, rindo, com um amigo.

O mineiro mudou de rotina desde que virou presidenciável. No fim de 2013, casou-se com a modelo Letícia Weber, sua segunda mulher, que há uma semana deu à luz os gêmeos Bernardo e Julia.

ARMAS

Assegurado o controle do PSDB, Aécio fez pontes com o ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE), que também concorre como candidato de oposição, e tem a ex-senadora Marina Silva na vice.

Os dois uniram seus partidos nas eleições para governador em alguns Estados, mas se afastaram depois que Marina passou a atacar Aécio e Campos, a salientar diferenças entre eles.

"Eduardo piscou cedo demais, mas não vou revidar", disse Aécio a aliados na última terça. Numa análise geral, concluiu: "Todo mundo já usou suas balas de prata. Dilma está com o [ex-presidente] Lula. Eduardo, com a Marina. As minhas armas eu ainda não usei".


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