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Entrevista - Carlos Arthur Nuzman

Vamos tentar, mas é complexo impedir a ação de cambistas

Chefe da Olimpíada do Rio diz que chamará ministério público para ajudar a fiscalizar venda de ingressos após escândalo na Copa

EDGARD ALVES PAULO ROBERTO CONDE ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Entre as lições que a Copa do Mundo deixou para os Jogos Olímpicos do Rio, que ocorrerão entre 5 e 21 de agosto de 2016, duas foram assimiladas e serão aplicadas: a atenção aos turistas e a preocupação com ingressos.

O presidente do megaevento carioca, Carlos Arthur Nuzman, afirmou à Folha, no sábado (11), que o Rio terá um esquema organizado de acampamentos para receber visitantes do exterior, principalmente os sul-americanos --que vieram em massa para a Copa--, um implemento inédito na história do evento.

A Rio-2016 será a primeira Olimpíada no continente.

O processo de venda de ingressos para o evento será alterado para não ocorrer problema semelhante ao do Mundial da Fifa, que teve desdobramentos policiais.

Nuzman garantiu que a Rio-2016 fará uma apresentação pública neste ano e pedirá envolvimento de promotores públicos e do governo federal no processo de comercialização de entradas.

Para o dirigente, as críticas feitas por membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) recentemente à Rio-2016 são naturais, mas superadas.

Ele também indicou que o Itaquerão deve ser o estádio de São Paulo no torneio de futebol durante os Jogos.

Folha - A Olimpíada representa um desafio maior ou igual à Copa do Mundo?
Ele é maior, porque o tamanho da Olimpíada é maior. O futebol, no mundo, tem atenção superior a qualquer outra modalidade esportiva, conquistou um espaço muito importante. Mas os Jogos Olímpicos têm uma complexidade maior por causa do número de esportes e por ser em uma mesma cidade.

Qual foi a maior lição dada pela Copa?
O governo brasileiro se deu conta da importância que a Copa representaria para o país, se acertou e foi muito bem. A outra foi ver algo de que falei quando ganhamos [a eleição para cidade-sede] em Copenhague, em 2009, comprovado. Naquela ocasião, eu disse que a Olimpíada do Rio seria a Olimpíada do continente sul-americano.

Como ficaram as garantias da União em relação aos Jogos?
A reunião com a presidente Dilma, na sexta, foi magnífica. O presidente do Comitê Olímpico Internacional [Thomas Bach] fez colocações elogiosas, e a presidente disse à imprensa que a partir desta segunda-feira todos os olhos estarão voltados aos Jogos. É óbvio que agora queremos ter a Olimpíada das Olimpíadas.

Como é seu relacionamento com Dilma Rousseff? Houve notícias de que ela lhe deu reprimenda devido a atrasos.
Nunca teve, nunca. Nas vezes em que nós estivemos juntos foi um tratamento absolutamente cordial e profissional. Tanto que ontem [sexta-feira] nós tivemos uma reunião de uma hora com ela. O presidente Bach, a presidente Nawal [El Moutawakel, da comissão de coordenação da Rio-2016], eu, e ela com os ministros. Mostra o interesse dela nos Jogos Olímpicos.

O comitê organizador foi criticado por um vice do COI, John Coates. Ele disse ser a pior preparação de uma Olimpíada já vista por ele.
O COI tem um presidente e quatro vice-presidentes. Não é um só presidente. Um deles [Coates] fez um comentário e em seguida ele mesmo corrigiu esse comentário. Isso não alterou em nada o que foi feito. Eu acabei de vir de uma apresentação para o comitê-executivo do COI e não houve nenhuma colocação que fosse diminutiva ao trabalho que nós estamos fazendo. O presidente Bach reconheceu os enormes avanços.

Mas as federações internacionais também demonstraram preocupação, há três meses. O que mudou tanto a ponto de afastar aquela desconfiança?
Algumas federações realmente fizeram reparos, muitos direcionados ao complexo de Deodoro, que ainda não estava em obras. Mas é natural que em uma organização que dure sete anos existam alguns reparos e comentários. Eu sinto que as federações e a mídia querem ver as obras andando fisicamente. Só que não é possível fazê-las todas de uma vez. Não podemos ter todas prontas com antecedência, caso contrário somos responsáveis pela manutenção delas.

O senhor concorda com as críticas feitas?
A experiência tem que servir para alguma coisa. É preciso encarar isso de uma maneira muito positiva, muito natural. Os Jogos Olímpicos não são uma coisa simples, mas uma coisa complexa. Nós temos atualmente 40% das obras para o evento prontas. É preciso saber conviver com isso [as críticas].

O custo da Olimpíada está próximo de chegar a R$ 40 bilhões. Vai subir muito ainda?
Vai estar em torno disso. Eu gostaria de explicar isso de uma maneira mais tranquila. Existe um orçamento do comitê organizador e outro dos governos. Mas, na parte dos governos, é preciso dividir em dois orçamentos. Isso para qualquer país. Um das instalações esportivas e tudo que é necessário para os Jogos, e outro da infraestrutura que a cidade e o país precisa. Londres, quando organizou os Jogos, tinha o metrô pronto. Então, não dá para comparar um com o outro.

No caso do Pan-2007, que o senhor organizou, o orçamento inicial girava em torno de R$ 400 milhões e terminou custando quase R$ 4 bilhões. O Rio terá um legado mais real e um orçamento mais controlado que o do Pan?
No Pan, um orçamento que tinha era para um tipo de evento. Quando ganhamos, eu levei para os governos uma ideia de fazer uma mudança de projeto para ser candidato aos Jogos Olímpicos e ter instalações prontas. Então, esse patamar de mudança gerou um aumento no valor do custo dos Jogos. Não estamos falando em estouro de orçamento, e sim do que aconteceu. Se você pegar o projeto de candidatura do Pan e o que foi entregue, ele é completamente diferente.
Os Jogos Olímpicos têm obras de infraestrutura que não estavam no dossiê de candidatura, como o metrô. Esse acréscimo da obra do metrô é benefício da população. Não há como dimensionar o custo dos Jogos hoje.

Há alguma ideia para abrigar a demanda de turistas que virão e não ficarão em hotéis, tal como aconteceu na Copa?
Muitos que virão não terão recursos nem lugar. O que está acontecendo? Estão vindo trailers, acampamentos, tendas, e isso será uma novidade em termos de Jogos Olímpicos. Nunca houve isso. O Rio já está se preparando para ter áreas para acolher essas pessoas. Eu até conversei com o prefeito [Eduardo Paes]. Muitas áreas na Barra [principal núcleo dos Jogos] que poderiam ser usadas para a Copa não foram necessárias.

Então virou preocupação?
Sim, se tornou, mas positiva e que já tem soluções encaminhadas. Ninguém foi pego de surpresa. Ainda bem que aconteceu dois anos antes.

Houve um escândalo dos ingressos da Copa. Isso pode influenciar nesta área para os Jogos de 2016?
Ingressos sempre foram uma preocupação. Na reunião do comitê-executivo do COI, na quarta-feira, eu levantei a questão. Os ingressos dos Jogos têm uma complexidade muito maior.
Nossa ideia é fazer uma apresentação pública, ainda no segundo semestre deste ano, e explicar como será feita a venda e quem vai fazer. Nós temos no site do Rio-2016, em aberto, quem vai concorrer para fazer a venda de ingressos e a hospitalidade.
Então, é público e transparente. Nós também vamos procurar o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Municipal para poder, nessa apresentação, explicar como será feita a venda e as responsabilidades de cada um. Nós queremos deixar a coisa mais clara possível. Isso foi comentado pelo presidente Bach à presidente Dilma.

Existe alguma maneira de impedir que os ingressos caiam nas mãos de cambistas?
Cambista é um instituto universal, né? Eu não conheço um lugar que não tenha. Nem na China eu deixei de ver cambista. Nós vamos tentar ao máximo, e por isso estamos indo ao Ministério Público. Mas é muito complexo.

O senhor é chefe da Rio-2016 e do COB. Não é consciente deixar um destes postos?
Se você pegar na história dos comitês organizadores e os comitês olímpicos, tirando o da China, sempre houve problemas de relacionamento, porque você começa a entrar em determinadas questões que pode ter interesses diferentes. Eu conversei com o [então presidente do COI, Jacques] Rogge na época [em que o Rio foi escolhido], e ele me disse "desde que você tenha duas grandes equipes, pode até ser vantajoso". E eu acho que tenho duas grandes equipes, na Rio-2016 e no COB. Não tenho nenhum receio das coisas como estão e nem os organismos. E acho que isso está consolidado.

O estádio para o futebol em São Paulo será o Itaquerão?
A decisão é da Fifa e da CBF. Vamos a partir da opinião deles para decidir. O presidente [da Fifa, Joseph] Blatter falou do Itaquerão.

Com o atraso nas obras de algumas instalações, os eventos-teste correm risco?
Eu fiquei surpreso com essa campanha da água [altos índices de poluição na Baía de Guanabara preocupam velejadores]. Não vou dizer que não tem, mas eles estão sendo corrigidos. Agora, quantos campeonatos mundiais de vela não foram realizados na Baía de Guanabara? Um monte, e continuam. E ninguém reclamou nada.


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