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Ex-motorista diz que transportou dinheiro para presidente do BB

Funcionário de Aldemir Bendine por quase seis anos, Sebastião Ferreira já trabalhou para o ex-presidente Lula

Chefe do Banco do Brasil afirma que acusações são um 'absurdo' e uma 'calúnia' e que desconhece depoimento

LEONARDO SOUZA DO RIO

O ex-motorista do Banco do Brasil Sebastião Ferreira da Silva, 69, disse em depoimento ao MPF (Ministério Público Federal) que fez vários pagamentos em dinheiro vivo a mando do presidente da instituição, Aldemir Bendine.

Ferreirinha, como é conhecido, disse que em certa ocasião Bendine, após subir de mãos vazias num prédio dos Jardins (zona oeste de São Paulo), saiu com uma sacola repleta de maços de notas de R$ 100. Segundo ele, a sacola foi entregue depois ao empresário Marcos Fernandes Garms, amigo de Bendine.

O depoimento do motorista, ao qual a Folha teve acesso, gerou a abertura de um procedimento de investigação contra Bendine, em junho, por suspeita de lavagem de dinheiro. É uma etapa preliminar do trabalho do MPF, quando os procuradores buscam provas para embasar um eventual processo.

Nada garante que Bendine venha a ser denunciado por causa das declarações de Ferreirinha. Denúncia anônima com teor semelhante ao depoimento do foi arquivada pelo MPE (Ministério Público do Estado) de São Paulo e por 11 órgãos do governo federal, incluindo a Comissão de Ética Pública da Presidência.

O presidente do banco nega as acusações, classificadas por ele de "absurdas".

DINHEIRO VIVO

Na quarta (27), a Folha revelou que Bendine pagou multa de R$ 122 mil ao Fisco para se livrar de questionamentos sobre a evolução de seu patrimônio pessoal. Ele foi autuado por não comprovar a origem de aproximadamente R$ 280 mil informados em sua declaração anual de ajuste do Imposto de Renda.

Bendine entrou no radar da Receita em 2010, após comprar com dinheiro vivo apartamento no interior paulista avaliado em R$ 200 mil. Como ele pagou o auto de infração, o caso foi arquivado em janeiro deste ano. O procedimento do MPF é uma nova frente de investigação.

Bendine afirma que a autuação da Receita ocorreu devido a um erro no preenchimento de sua declaração de Imposto de Renda e que não houve ilegalidade em seu ato. O presidente do BB diz que todas as acusações feitas por seu ex-motorista são mentirosas.

Ferreirinha tem um histórico de anos de serviços prestados ao PT e ao Banco do Brasil. Em 2002, foi contratado para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. No ano seguinte, passou a trabalhar para a Presidência da República em São Paulo, cujo escritório ocupa o terceiro andar de um prédio do BB na avenida Paulista.

O motorista trabalhou para a Presidência até 2007, quando foi desligado do quadro após ter se desentendido com a então chefe do gabinete da Presidência, Rosemary Noronha --amiga pessoal de Lula demitida em 2012 por suspeita de tráfico de influência em agências do governo.

Nesse período, Ferreirinha dirigiu sobretudo para Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete de Lula, hoje chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Dilma Rousseff (PT).

GESTO

Em gesto para se aproximar do PT, Bendine contratou Ferreirinha em setembro de 2007, quando ainda era vice-presidente do banco estatal. Foram quase seis anos dirigindo para Bendine, até agosto de 2013.

Segundo Bendine, Ferreirinha foi demitido por ter entrado com um processo trabalhista contra a empresa terceirizada pela qual fora contratado. Ferreirinha diz que Bendine queria transferi-lo para uma empresa ligada ao banco. O motorista afirma que não aceitou a proposta e que pediu para ser demitido.

No depoimento, Ferreirinha contou que levava Bendine com frequência a um endereço no bairro dos Jardins (zona oeste de São Paulo), onde funcionam diversas empresas, entre elas algumas ligadas à Rede Record, como uma corretora de seguros e um escritório de advocacia que presta serviços ao grupo que controla a emissora.

Procurada, a Record informou que não tem nenhum departamento no endereço citado e não se manifesta por outras empresas do grupo.

Em determinado dia, disse Ferreirinha, Bendine voltou desse edifício com uma sacola e a depositou atrás do banco do carona. De lá, foram a um outro local em Moema (zona sul de São Paulo). À noite, dirigiram-se à casa do empresário Marcos Garms.

Depois do jantar, afirmou o motorista, Bendine pegou a sacola na parte traseira do carro, mas deixou escapar uma das alças --foi quando ele diz ter visto o dinheiro.

O presidente do Banco do Brasil e Garms são amigos de infância. Quando está em São Paulo, Bendine costuma circular num Range Rover Evoque, cujo valor estimado é R$ 180 mil. O automóvel está registrado em nome de uma das empresas das quais Garms é um dos proprietários.

Procurado, o empresário negou que tenha recebido dinheiro de Bendine. Disse que Ferreirinha "vai arcar com as consequências" das declarações, referindo-se a eventual processo judicial. "Isso é delírio puro, nunca ocorreu." Sobre o carro, Garms disse que foram poucas as vezes que o emprestou a Bendine.


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