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Ativista do país foi alvo de escuta em evento da ONU

Representante do Greenpeace mantinha contato com 1º escalão do governo

Justiça da Dinamarca, onde ocorreu o grampo, considerou que a ação não era necessária e teve caráter ilegal

DE BRASÍLIA

A polícia da Dinamarca grampeou ilegalmente um membro da delegação brasileira na Conferência da ONU sobre Clima, realizada em Copenhague em 2009 e, com isso, pode ter ouvido conversas de autoridades do primeiro escalão do governo federal.

O alvo foi um dos mais conhecidos ativistas do Greenpeace no Brasil, Paulo Adario, que integrou a delegação brasileira como representante das ONGs. Ele mantinha contato telefônico diário com o então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Detalhes foram divulgados na edição deste domingo (28) do jornal dinamarquês "Berlingske".

No período do grampo, Adario também pode ter conversado com a então senadora Marina Silva, hoje candidata à Presidência pelo PSB, e com o atual ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, que era negociador-chefe da delegação brasileira na conferência.

Adario foi vítima do grampo devido ao clima tenso no local --a polícia suspeitava que ele atrapalharia o funcionamento de serviços essenciais, como água e luz.

De acordo com a Justiça de Copenhague, o grampo começou à 1h10 da madrugada do dia 17 de dezembro de 2009 e durou cerca de 36 horas, até as 13h39 do dia 18. A polícia, porém, disse que a duração foi menor: de 1h10 da madrugada do dia 18 até as 13h39 do mesmo dia.

Na ocasião, a interceptação foi interrompida porque o grampo foi considerado ilegal pela Justiça, ao entender que ele não era "essencial" para uma investigação.

PROTESTOS

A conferência caminhava para um fracasso, o que estimulou protestos das ONGs. Como consequência, houve um aumento do aparato policial nas ruas. Um grupo de ativistas do Greenpeace chegou a ser preso, mas Adario não estava entre eles.

O período do grampo foi no auge da tensão, quando se tentava salvar o acordo, mas acabou sendo aprovado um texto com metas aquém do esperado para redução dos gases do efeito estufa.

Além das delegações dos países, havia cerca de 13 mil integrantes de ONGs.

"O governo local estava tenso com o desenrolar do fracasso para o qual se encaminhava e com o aumento gradativo da insatisfação", afirma Adario. "A tensão foi crescente, até que chegou uma hora em que a polícia praticamente cercava o local da conferência."

Em 2012, ele recebeu um prêmio da ONU de "Herói da Floresta", por seu trabalho em defesa da Amazônia. Adario foi, por exemplo, um dos articuladores da moratória da soja, acordo com empresas para impedir a comercialização de grãos provenientes de áreas desmatadas.

"Hoje todo mundo acredita que estamos todos gravados, mas naquela época não havia isso. O mais impressionante é você pensar que é um governo que tem uma longa tradição democrática e progressista", disse o ativista.

O ex-ministro Carlos Minc (PT), hoje deputado estadual pelo Rio, afirma que "com certeza" falou com Adario durante o período do grampo.

"A gente tinha vários contatos por dia com o pessoal das ONGs, e eu falava com o Adario e outros companheiros", contou. Minc considerou "gravíssimo" o grampo.

Procurados, Marina Silva e a presidente Dilma Rousseff não responderam. O Itamaraty não quis comentar.

A polícia lamentou o grampo e ressaltou sua duração. "A interceptação, é claro, não foi direcionada às autoridades brasileiras", diz Thorkild Fogde, diretor da polícia.


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