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Análise

Talento na direção ultrapassou a grande identificação do ator com o tipo malandro

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Os personagens simpáticos e os que projetam uma constante bonomia são as marcas que Hugo Carvana deixa mais impregnadas no público.

Do repórter Valdomiro Pena de "Plantão de Polícia" ao Seu Silveira de "Insensato Coração", o físico e a voz serviram para denotar aquilo que o público sedento de valores firmes chama de "bom caráter".

O Carvana ator, contudo, foi muito além da imagem de bonachão projetada nas novelas e seriados. Quando passou a integrar o elenco da Globo, nos anos 1970, já possuía bem preenchida ficha de duas décadas de serviços no cinema.

Sua estreia, em 1955, em "Trabalhou Bem, Genival" marca o primeiro encontro com os malandros, caras que preferem levar a vida na flauta ou que aliviam o peso do trabalho com crença inabalável na alegria. Talvez isso se explique pela proximidade entre seu nome e "Carnaval".

Antes de se fixar no imaginário como trambiqueiro, sua face é frequente ao longo do Cinema Novo. Os pequenos papéis nos mais importantes títulos dos expoentes do movimento garantem para ele, antes de tudo, regularidade.

Assim, Carvana funda uma trajetória como o tipo de intérprete que os norte-americanos chamam de "character actor", aquele que, mesmo restritos a papéis secundários, as plateias reconhecem de imediato.

Essa vantagem se alterna com o prestígio quando Carvana passa à direção em 1973, com "Vai Trabalhar, Vagabundo". Como Secundino Meireles, o ator-diretor encarna um símbolo de rebelião, por meio da recusa ao trabalho, em pleno regime militar, garantindo a popularidade do filme para além de seu bom humor.

Com "Se Segura, Malandro!", ele confirma a verve para interpretar com ironia as agruras do brasileiro, fazendo no cinema aquilo que os cronistas conseguem com precisão e leveza na escrita.

Ao tomar distância de sua própria persona cinematográfica, Carvana alcança seu mais belo trabalho na direção com "Bar Esperança".

Neste mapa puramente afetuoso que ele traça de um grupo de amigos ficaram registradas as desilusões geracionais, as mutações nos papéis de homens e mulheres e o Brasil que àquela altura livrava-se de uma era pesada. No lugar de rancor ou cinismo, Carvana enxergou ali muitas razões para rir.


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