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Poeta Ferreira Gullar é eleito imortal

Maranhense que resistiu por anos a concorrer entra para a Academia Brasileira de Letras com 36 de 37 votos possíveis

Aos 84 anos, escritor, crítico e colunista da Folha diz que maior abertura da instituição o fez mudar de ideia

LUIZA FRANCO DO RIO

"Meus amigos de vagabundagem lá de São Luís vão dizer Ih, é o periquito de fardão'", diz Ferreira Gullar, e dá uma gargalhada.

Gullar, 84, poeta, crítico de arte, dramaturgo e tradutor conhecido por sua postura transgressora, é o novo imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), eleito nesta quinta (9). Ele será o titular da cadeira 37, antes ocupada pelo poeta e tradutor Ivan Junqueira, morto em julho.

Confirmando o favoritismo, o colunista da Folha recebeu 36 dos 37 votos. Um foi em branco. Os acadêmicos desconversam sobre quem teria votado em branco. "A queima dos votos ao final da cerimônia tem um significado simbólico. Desaparecem os vestígios", disse Nélida Piñon.

"Foi uma batalha longa para convencê-lo. Os bons candidatos não precisam da Academia", afirmou o historiador José Murilo de Carvalho.

Gullar resistia aos convites insistentes dos acadêmicos havia 20 anos. "A minha entrada para a Academia é uma transgressão comigo mesmo", disse ele sobre o fato de ter mudado de ideia.

Ele conta que decidiu se candidatar porque sua visão sobre a instituição mudou. "Eu não queria entrar para a Academia porque não tenho espírito acadêmico. Mas hoje ela não é mais o que era, é uma instituição aberta."

Em sua posse, Gullar deve ser recebido por Antonio Carlos Secchin, que liderou a campanha por sua eleição. Secchin deixou a sala onde aconteceu a eleição radiante.

PSEUDÔNIMO

José Ribamar Ferreira adotou aos 18 anos o pseudônimo de Ferreira Gullar. Mudou-se para o Rio em 1951, onde participou da fase inicial do movimento concretista ao lado dos poetas Augusto de Campos (1931), Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927-2012). Rompeu com o movimento em 1957 por considerá-lo excessivamente racional. Gullar defendia mais subjetividade, o que resultou na fundação do movimento neoconcreto.

A partir da década de 1960, a obra de Gullar passou a refletir seu engajamento político. Com o AI-5, foi preso, e passou a viver no exílio a partir de 1971. É dessa época seu livro mais conhecido, "Poema Sujo" (1976).

"É uma das melhores coisas que escrevi. A matéria poética era muito grande por causa da situação em que eu me encontrava. Escrevi o Poema Sujo' como se fosse o último da minha vida."

A edição completa de sua obra poética, "Toda Poesia", foi publicada em 1980. Gullar recebeu diversos prêmios ao longo da vida, entre eles o Prêmio Camões, em 2010.

Os acadêmicos aguardam seu discurso de posse com ansiedade. Alberto Venancio, imortal e estudioso da história das eleições da Academia, diz que a cadeira 37 é conhecida por excelentes discursos.

Gullar disse que o seu pronunciamento está no estágio de notas. "Não vou fazer um discurso longo. Sei que, em discurso longo, todo mundo dorme", afirmou.


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