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Janio de Freitas

Saídas falsas

O que se passou entre o PT, Marcos Valério e o Rural poderia ocorrer em paralelo ao financiamento público

Uma ideia para a frente, outra para trás. Ambas irrealistas e a serem combatidas para evitar maior deterioração do sistema político, já sobrecarregado de defeitos e de figuras deploráveis.

O PT fará uma grande investida neste ano para a reforma política e o financiamento público das campanhas eleitorais. É o que afirma seu presidente, Rui Falcão. O que parece pouco para significar que haja mesmo tal campanha. Mas bastante como confirmação da crescente adesão petista ao financiamento público dos candidatos.

O argumento que viceja na cúpula do partido, exposto por Rui Falcão como seu também, é de que "o PT não teria aderido a práticas de outros partidos" se o financiamento público já existisse.

Tudo o que se passou entre o PT, Marcos Valério e o Banco Rural poderia acontecer em paralelo ao financiamento público ou a qualquer outro patrocínio das finanças eleitorais. Era uma operação sigilosa, bem imaginada e à margem da lei como sua precursora, em 1998, para o PSDB, e como outras operações, diferentes mas não menos ilegais, realizadas por vários partidos e candidatos em todas as eleições brasileiras.

O financiamento público não impediria operações sigilosas e bem imaginadas. Nem a riqueza privada deixaria de abastecê-las, com os olhos postos nas retribuições futuras. Essas coisinhas como grandes obras, orçamentos e reajustes aladroados, artimanhas para entregar uma Vale do Rio Doce ou lei para concentrar a telefonia na Oi da Odebrecht. As compensações justificam tudo e não implicam riscos, porque os candidatos as registram em valores falsos ou nem registram.

Os eleitos são uma parcela mínima dos milhares de candidatos. Logo, o dinheiro público, no financiamento eleitoral, seria gasto majoritariamente com derrotados. Com gente que receberia dinheiro do Tesouro Nacional para tentar a sorte, ou só para faturar algum legal ou ilegalmente, e depois iria cuidar da vida em outra freguesia. Sem justificação do recebido sequer como farsa de trabalho, à maneira de tantos parlamentares e ocupantes dos Executivos.

O financiamento público das campanhas eleitorais seria outro rombo (pois é, a palavra se parece tanto com roubo) nos cofres públicos, saque inútil de bilhões sempre esperados por destinos como saúde, educação, moradias, reforma agrária, saneamento ou simplesmente tudo. Bilhões doados para financiar derrotas aos milhares.

Ao olhar para o que aconteceu, Rui Falcão exprime a ideia difundida no PT de que os fatos chamados mensalão decorreram do sistema eleitoral vigente. Não. A responsabilidade é só das pessoas que agiram de tal ou qual maneira, vendo-se diante da oportunidade proporcionada pelo já experimentado Marcos Valério e aceita pelo Banco Rural. A maneira de impedir fatos assim no PT não é mudar o sistema de financiamento de campanhas, que está fora do partido, mas o que, estando dentro, seja capaz de reproduzi-los.

O sistema político deteriorou-se, mas não é por distração que está mantido, com tanta resistência à reforma, pela maioria dos que nele fazem suas vidas.


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