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Fim da queima da cana 'exclui' produtores
Sem conseguir mecanizar colheita, pequenos canavieiros vão para outras culturas ou arrendam terras às usinas
Baixa remuneração e custos da produção são os principais entraves; fim das queimadas está previsto para 2015
Pequenos produtores de cana-de-açúcar estão arrendando suas terras ou migrando para outras culturas por causa da proibição das queimadas para a colheita, prevista para começar em 2015 no Estado de São Paulo.
A baixa remuneração ao setor, provocada pelo controle artificial do preço da gasolina, e a desvantagem econômica de fazer a colheita mecanizada em áreas menores também são apontados como causa da "fuga produtiva".
O superintendente da Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba), José Guilherme Nogueira, disse que os produtores trocaram a cana pelo plantio de eucalipto, frutas e cebola, e pela pecuária na região de Ribeirão Preto.
No ano passado, segundo uma pesquisa da associação, 12% dos produtores associados haviam arrendado suas terras a grandes usinas, transferindo a produção às empresas e lucrando apenas com o aluguel das terras.
A associação é formada por 1.743 integrantes, com 3.022 propriedades rurais em 50 municípios, totalizando 82 mil hectares. A cada safra, eles colhem cerca de 7 milhões de toneladas de cana.
Pequeno produtor em Taquaritinga, Márcio Almir Basso, 52, reservou neste ano parte de seus 30 hectares para a plantação de mandioca. "A cana está se tornando inviável. O rendimento por área não é suficiente para se manter", disse.
De acordo com Nogueira, a mecanização pode levar a uma perda de área plantada. Já os custos de produção foram pressionados pelo aumento no preço de insumos como diesel e fertilizantes.
"O custo da mecanização é muito alto. Os menores estão saindo da atividade ou arrendando suas terras", afirmou José Rodolfo Penatti, gerente técnico da Afocapi (Associação dos Fornecedores de Cana de Piracicaba).
SEM ESCALA
Para o presidente da Udop (União dos Produtores de Bioenergia), Celso Torquato Junqueira Franco, o volume de produção dos pequenos não compensa a implantação da colheita mecanizada.
"Os pequenos produtores não têm escala para mecanizar", disse Franco. "É um problema sério, porque muitas dessas áreas serão inviáveis tecnicamente com a proibição da queimada."
Hoje, as usinas realizam o corte e o transporte da cana para os produtores que não possuem as máquinas, e cobram pelo serviço no pagamento pela colheita.
Os produtores afirmaram que a compra de uma máquina colheitadeira só é viável financeiramente para áreas acima de 1.200 hectares.
O protocolo prevê para 2017 o fim da queimada em propriedades menores que 150 hectares e em áreas não mecanizáveis.
Franco afirmou que a mecanização aumentou o custo da produção e reduziu a produtividade. A colheita da cana crua (sem a queima) fez com que parte da palha e da terra seja carregada junto com a cana.
A medida, de acordo com ele, diminui o percentual por tonelada do ATR (Açúcar Total Recuperável), índice referência para a remuneração dos produtores. "O índice de impureza às vezes chega a 8% [por tonelada]", disse Franco, da Udop.