Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ribeirão

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Levante gerou demissões e novas relações

ISABELA PALHARES DA ENVIADA A GUARIBA

Mesmo 30 anos depois da maior greve rural do setor canavieiro, para os moradores de Guariba, é difícil esquecer o dia em que a pacata cidade virou campo de guerra.

Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guariba, Wilson Rodrigues da Silva, 48, afirmou lembrar-se daquele 15 de maio em que a praça central da cidade tinha carros incendiados, pessoas feridas e um cerco da polícia.

"Naquela época, tudo estava errado, as condições de trabalho e os baixos salários", afirma Silva. "Ainda por cima, teve essa resposta desproporcional da polícia."

Diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaboticabal, Alcides de Barros Filho, 56, foi um dos mais de 30 boias-frias presos naquele dia na vizinha cidade.

Por 12 anos --dos 14 aos 26-- ele viajou diariamente para Guariba para trabalhar no corte de cana-de-açúcar.

"Nossas condições eram péssimas. Trabalhava 12 horas seguidas, bebendo água quente e com o sol rachando a cabeça", diz Barros Filho.

"Mas, como era o único emprego que conseguíamos, ninguém reclamava."

Ele afirma que foi preso sob a suspeita de incitar a violência, mas acabou solto horas depois. No entanto, a prisão foi um fardo que teve de carregar por anos.

Mesmo com o fim da greve e a melhoria dos direitos trabalhistas, muitos grevistas tiveram seus nomes incluídos em uma "lista suja" produzida por usineiros. Barros Filho foi um deles.

"As usinas mandaram embora muitos grevistas e divulgaram seus nomes por todo o setor", afirma. "Nós fomos praticamente banidos do setor canavieiro."

Almir Pazzianoto, secretário de Estado do Trabalho à época, conta ter ficado assustado ao receber a notícia do embate entre boias-frias, usineiros e polícia.

No mesmo dia, viajou para Guariba para tentar negociar um acordo.

DIMENSÃO

"O maior medo era porque não sabíamos até onde aquela greve poderia chegar", afirma. "Eles [boias-frias] colocavam fogo nos canaviais e punham em risco suas próprias vidas."

O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que é empresário agrícola em Guariba, disse à Folha que o levante de 30 anos atrás foi um "ponto de inflexão" nas relações trabalhistas do setor da cana-de-açúcar.

"Apesar da situação extrema a que se chegou, esse movimento deu o equilíbrio necessário para as relações entre os trabalhadores e os patrões, que persiste até hoje", afirma o ex-ministro.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página