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Minha História - Robério Ribeiro da Cruz, 41

O homem errado

Após ficar seis anos preso por engano no Maranhão, pedreiro tenta reconstruir a vida em Franca, mas diz que quer voltar

RESUMO Robério Ribeiro da Cruz, 41, ficou preso por engano por seis anos e seis meses no Maranhão, onde vivia. Desde 2010, ele tenta reconstruir a vida em Franca, mas agora quer voltar ao Estado onde nasceu e foi condenado. Em outubro, uma audiência vai analisar o pedido de indenização, pois Robério afirma que não recebeu assistência após a libertação. O governo do Maranhão não respondeu às acusações.

(...) Depoimento a

JOÃO ALBERTO PEDRINI DE RIBEIRÃO PRETO

Seis anos, seis meses e quatro dias. Esse foi o tempo que fiquei preso injustamente, no Maranhão.

Fui condenado por um homicídio que não cometi, de um menino que era filho de uma ex-namorada. Fui solto depois que o verdadeiro culpado confessou o crime.

Meu irmão me chamou para morar em Franca depois que eu saí da prisão [em 2005]. Lá, no Maranhão, estava ruim para arrumar serviço. Todos me olhavam de forma estranha, mesmo após minha inocência ter sido comprovada.

Passavam em frente da casa da minha mãe e diziam: "É aí onde o matador de criança mora". Foi horrível. É ruim demais. Minha mãe sofreu, meu pai. Eles tiveram que dar o que não tinham enquanto eu estava preso.

Fui condenado a 20 anos de prisão sem provas.

Precisavam achar alguém para pôr a culpa e, como eu tinha um caso com a mãe do menino que morreu, me pegaram. Mas nunca tive raiva das pessoas que fizeram isso comigo. Não tenho rancor.

Perdi parte da criação dos meus filhos. Hoje eles têm 18 e 16 anos. Na época, eram pequenos. O menor, quando me viu pela primeira vez, chorou. Nunca tinha me visto. A mãe dele dizia: "Olha, é seu pai". E ele chorava. Foi na prisão.

Destruíram minha vida. Fiquei preso em Pedrinhas [presídio da capital São Luís]. Vi muita gente morrer. Era o inferno. Eu ficava no seguro [área destinada a detentos que correm risco de serem atacados dentro da prisão].

Os outros presos diziam que me matariam se houvesse alguma rebelião. Houve algumas, mas nunca conseguiram me pegar, porque eu estava numa ala protegida. Foi muita humilhação.

Nunca cometi nenhum crime. Só trabalhava, honestamente. Era do serviço para casa e da casa para o serviço.

Desde que saí, mesmo após a inocência, ninguém veio me perguntar como estou, como está meu psicológico.

O Estado não se preocupou comigo, para saber da minha situação. Não fizeram nada. Me soltaram e pronto, como se eu fosse um cachorro.

A única coisa que fizeram foi me jogar na prisão para me chamarem de assassino.

Quando fui libertado, foi uma sensação boa, mas ruim também. Pensei: "Como vão me receber aqui fora?". Na prisão já sabia como era, mas e fora? É constrangedor as pessoas te olharem achando que você é criminoso.

QUERO VOLTAR

Hoje estou em Franca tentando reconstruir minha vida. Mas quero voltar para o Maranhão, lá é meu lugar, minha terra. Tenho que resolver meus problemas. Hoje eu sinto dor para trabalhar, não consigo fazer mais o esforço que fazia antes.

Estou processando o Estado para conseguir a reparação dos danos que sofri, para poder viver com um pouco mais de dignidade daqui para frente. Talvez montar um negócio, ainda não sei. O problema é que demora muito.

Tenho uma audiência em outubro agora. Preciso arrumar dinheiro para viajar, mas não consigo. Ganho pouco. Tenho que mandar dinheiro para meus filhos, minha família, me manter aqui na cidade. Tenho fé que vou conseguir, de alguma forma.

Estou livre, com a inocência comprovada. Mas é muito ruim porque, mesmo que eu tenha provado que não fiz nada, sempre alguém vai me olhar e pensar que tenho um espírito maldoso. Ficarei marcado para sempre.


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