Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Superlotação da Fundação Casa vira caso de Justiça
Relatório feito pelo Ministério Público aponta excedente em 106 unidades
Fundação Casa diz que atende dentro da capacidade prevista em lei e que ainda não foi notificada da ação civil
A superlotação de 106 das 116 unidades da Fundação Casa no Estado apontada pelo Ministério Público gerou ação civil que pede multa de R$ 14,7 milhões por dia à instituição caso ela não crie vagas para suprir a demanda.
Há casos em que o número de internos é quase o triplo da capacidade. A superlotação inclui as unidades baseadas na região de Ribeirão.
Segundo a ação, a unidade Ouro Verde, em Ribeirão, foi a mais superlotada da cidade. Comporta 90, mas tinha 103 jovens em setembro de 2013, ou 14,4% a mais.
As informações são de um relatório feito pela Promotoria ao longo de 2013 que gerou uma ação civil ajuizada no último dia 8 e que pede a multa milionária.
A Fundação Casa, por outro lado, afirmou que cumpre as determinações do Conselho da Magistratura do Poder Judiciário paulista em relação à capacidade e ocupação. Sobre a ação, informou que não foi notificada.
Para a Promotoria, a superlotação causa prejuízos à ressocialização. "Coloca em xeque a segurança da unidade", disse o promotor da Infância e Juventude Fábio José Bueno, um dos autores da ação.
Segundo o promotor, o excedente de jovens não acompanha a quantidade de funcionários, o que pode gerar situações de risco.
Ribeirão tem hoje três unidades da fundação em operação, que, segundo a Promotoria, atendem em média 320 adolescentes e apresentam uma série de problemas.
São investigadas ainda denúncias de torturas, falta de medicamentos e até de água quente para o banho.
A fundação, no entanto, nega que em Ribeirão haja excedentes e afirmou que atende dentro da legislação.
Os casos são apurados pelo promotor da Infância Luiz Henrique Paccagnella.
A Promotoria questiona ainda a instalação de uma quarta unidade em Ribeirão.
Para o promotor, com a concentração de unidades, a cidade acumula internos de outros locais (cerca de 40% do total). Os menores, distantes de suas famílias, têm dificuldade de ressocialização.
Para Paccagnella, o Estado precisa criar vagas "espalhadas". Barretos é um exemplo de local que, apesar da demanda, não tem unidade.
O Promotor da Infância no município, Flávio Okamato, instaurou inquérito para apurar a questão. Segundo ele, os infratores acabam sendo liberados pela polícia, pois não há vaga para eles.
Para o pesquisador José dos Reis Santos Filho, da Unesp Araraquara, a superlotação cria situações de promiscuidade --onde não há separação etária ou de gravidade de delitos--, o que dificulta a ressocialização.