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Ribeirão

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Minha história - Creuza de Moraes Saure

Com bicicleta e maca portátil, auxiliar de enfermagem fez 1.700 exames contra o câncer em 4 anos no serviço pioneiro de prevenção contra a doença, que chega a 20 anos

ISABELA PALHARES DE RIBEIRÃO PRETO

RESUMO

Apesar de, na infância, Creuza de Moraes Saure ter de trabalhar como boia-fria, conseguiu estudar, ser auxiliar de enfermagem e uma das responsáveis pela criação do serviço de prevenção do Hospital de Câncer de Barretos, que completa 20 anos. Em 1994, de bicicleta e uma maca portátil, deu os primeiros passos para o serviço, que hoje tem quatro unidades móveis, três fixas e institutos em São Paulo e na Bahia. Em quatro anos, fez 1.700 exames de papanicolau.

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Ainda hoje as pessoas têm preconceito contra o câncer. A doença ainda tem um estigma muito grande. Imagine há 20 anos o quanto era difícil convencê-las a fazerem exames preventivos.

Eu estava há dois meses trabalhando na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do Hospital de Câncer de Barretos, quando me convidaram para entrar em um projeto de prevenção.

O objetivo do programa era atrair as mulheres da periferia do município para fazer os exames de papanicolau [para a detecção de câncer de colo de útero] em estruturas que eram montadas em centros comunitários e em igrejas. Tentamos muito, mas ninguém aparecia para fazer os exames.

Foi quando nós pensamos em uma abordagem mais direta: bater na porta das casas dessas mulheres e ressaltar para elas a importância da realização do exame. O hospital criou então uma maca portátil, que eu carregava em uma bicicleta.

Eu, sozinha, era toda uma equipe. Montava a maca, fazia o exame e tinha de ser "psicóloga" para convencer não só as mulheres, mas também os maridos, da importância do exame.

Tive de fazer vários desses exames com os maridos ao lado das pacientes. Alguns deles achavam que as mulheres estavam sendo violadas.

Mas superei os desafios que surgiram e, nos primeiros quatro anos do projeto, foram realizados 1.700 exames. Em sete deles houve o diagnóstico de câncer.

Um deles foi o de uma jovem de 23 anos, mãe de quatro filhos. Eu insisti com ela por mais de um mês para que fizesse o exame, mas ela se negava a fazer.

Hoje, quando me encontra na rua, ela me agradece e diz que salvei sua vida.

Tive que começar a trabalhar aos 12 anos, dois anos depois de o meu pai ter morrido. Trabalhei como boia-fria em lavouras de algodão, de arroz, de tudo o que aparecia para fazer.

Um dia tive um "estalo" e percebi que vivia sempre na miséria, sem tempo para os meus três filhos. Por isso, decidir estudar para ser assistente de enfermagem.

Às vezes ainda fico imaginando como a minha vida teria sido se eu não tivesse dado essa guinada, se não tivesse decidido estudar.

PEREGRINAÇÃO

Já estive nove Estados com esse serviço de prevenção à doença. Somente neste ano já foram 62 municípios que percorremos para fazer os exames.

Nós pudemos salvar muitas vidas ou, pelo menos, diminuir o sofrimento de algumas pessoas.

O que mais me dói é que, na maioria dos casos, em todo o Brasil, as pessoas tiveram acesso ao atendimento médico, mas o sistema público de saúde não funciona.

Muitos pacientes dizem que foram ao médico cinco ou seis vezes e relataram uma dor ou uma alteração, mas os médicos não deram atenção.


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