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Apesar da nova lei, crianças mais velhas são 'esquecidas' em abrigo

Dos dez acolhidos em entidade de Ribeirão Preto, seis já vivem no local há mais de dez anos

Outro fator que pesa na permanência é que muitos têm irmãos abrigados e a lei tenta evitar que se separem

JULIANA COISSI DE RIBEIRÃO PRETO

Amanhã é um dia especial para Ana Paula Santos Martins. Ela descobrirá o sexo do seu bebê -Gabriel ou Ana Laura-, no quinto mês de gestação. A jovem de 22 anos se prepara para ser mãe sem praticamente ter sido filha.

No início da infância, ela chegou a experimentar a vida em família. Morou com os pais e os três irmãos menores numa casa alugada até viverem na rua e em albergues.

Aos 6, ela e os três irmãos foram separados dos pais e levados a um abrigo. Desde então, Ana Paula cresceu em instituições. Virou adolescente, começou a namorar quem seria seu futuro marido, também abrigado, e chegou aos 18 anos sem voltar a viver com os pais ou ser adotada.

Mesmo com a nova lei da adoção, o Brasil ainda convive com a situação de crianças mais velhas que não são reintegradas à família original nem são adotadas e, por isso, passam a vida em instituições até se tornarem adultas.

É o que ocorre, por exemplo, no Caribe Nosso Clubinho, em Ribeirão Preto. Dos dez acolhidos, seis já vivem na instituição há mais de dez anos. Hoje com 17 anos, Lívia (nome fictício) vive em abrigos desde os nove e se prepara para deixar o Nosso Clubinho.

Em vigor há três anos, a lei 12.010 foi implantada para evitar que crianças fiquem em abrigos indefinidamente.

Para especialistas e diretores de abrigos ouvidos pela Folha, um dos avanços do texto foi estabelecer prazos.

Pela lei, a permanência em casas de acolhimento não deve se prolongar por mais de dois anos, "salvo comprovada necessidade". E, segundo o texto, o juiz deve reavaliar a situação a cada seis meses.

O tempo ideal, porém, ainda é extrapolado. Na capital, nas seis casas de acolhimento da Associação Maria Helen Drexel, há 54 acolhidos.

Destes, 28 já estão há mais de dois anos no local, a maioria adolescentes. Um dos abrigados chegou em 1999 -hoje está com 14 anos.

Ainda assim, segundo Roberta Lund, gestora da entidade, a nova lei agilizou processos -neste ano, foram desabrigados 30 internos.

Também em São Paulo, o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto acolhe hoje, em suas sete casas, 140 menores. Ao menos 30% já vivem há mais de dois anos no local, boa parte adolescentes. Cinco deles são soropositivos e estão há dez anos na entidade.

Além da idade, outro fator que pesa na permanência é que muitos adolescentes têm irmãos abrigados, segundo a supervisora pedagógica do Bom Parto, Marilda dos Santos Lima. A lei tenta evitar que irmãos sejam separados.

"É questão de mentalidade. As pessoas querem adotar uma criança só, e nova."

MAIS VELHAS

Como ocorreu com Lívia e Ana Paula, a grávida, o pouco interesse por crianças mais velhas se expressa no Cadastro Nacional de Adoção.

Entre as 5.462 crianças aptas no país, 75,6% têm dez anos ou mais. Mas só 1,3% dos 28 mil pretendentes na fila aceitam um filho dessa faixa etária. Mais do que cor ou sexo, a idade é o principal obstáculo, segundo o Conselho Nacional de Justiça (leia texto nesta página).


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