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Depoimento

'Engravidei na balada e não sei quem é o pai'

DE SÃO PAULO

Após 16 anos de alcoolismo, inclusive durante duas gestações, a dona de casa Sueli, 46, conseguiu abandonar o vício.

-

"Fui abandonada pela minha mãe aos seis anos e passei a ser criada pela minha avó. Era uma família que não gerava amor, gerava álcool. Meus avós, minha mãe e meu irmão, todos eram alcoólatras. Minha irmã morreu de overdose.

Comecei a beber cedo, com 15, 16 anos. Ia aos bailes nos fins de semana, mas era tímida, tinha vergonha de namorar, de dançar.

Aí descobri que, depois de algumas cervejas, me tornava poderosa.

Aos poucos, comecei a beber a partir de quinta-feira. Aos 21, engravidei na balada. Não me lembro de nada. Não sei quem é o pai da minha filha. Mesmo grávida, continuei bebendo.

Tive minha filha, mas não cuidava. Largava com a minha avó alcoólatra e ia para as baladas beber.

Quando minha filha tinha nove meses, resolvi morar com um homem que mal conhecia. Tive sorte, foi um homem que me acolheu, que falou: Pare de trabalhar e cuide da sua filha'.

Mas em vez de cuidar dela, passei a beber mais, só que em casa. Meus vizinhos cuidavam dela.

Começaram as brigas, físicas e verbais. Meu marido chegava em casa do trabalho e queria a esposa. Encontrava uma bêbada.

Quatro anos depois, nasceu minha segunda filha. Também a gerei no álcool. A partir daí, o descontrole foi total. Era minha filha maior que cuidava da caçula, de mim e da casa.

Eu deixava a menor na escolinha, às 10h da manhã. Depois, passava na quitanda, comprava bebida [no começo era cerveja, depois passou a ser pinga com açúcar], começava a beber em casa e apagava.

Um dia, minha filha menor quebrou uma garrafa de vinho e bati tanto que ela ficou dois dias de cama [começa a chorar compulsivamente]. No dia seguinte, eu não me lembrava de nada.

E ela dizia: Eu odeio a senhora, não tenho mãe'. Até hoje ela não me perdoa.

Já a maior conseguiu entender que tudo o que eu fiz foi por causa de uma doença chamada alcoolismo, não foi por maldade.

No dia 13 de janeiro de 1998, decidi dar um novo rumo na minha vida. Liguei para o AA [Alcoólicos Anônimos]. No dia seguinte, ingressei na irmandade.

A partir daí, comecei a ser mãe de fato. Depois disso, tive mais dois filhos, que hoje têm 14 e 11 anos. Eles dizem: Mamãe, eu te amo'. Das filhas mais velhas, nunca ouvi isso."


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