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Saúde + Ciência

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O poder da cafeína

Alimentos com a substância se multiplicam nos EUA e dão origem a investigação sobre segurança dos produtos; no Brasil, cápsula cafeinada promete melhorar concentração

MARIANA VERSOLATO DE SÃO PAULO

Um onda recente de lançamentos de alimentos adicionados de cafeína nos EUA -como chicletes, aveia, waffle, marshmallows e até água e semente de girassol- despertou a atenção da FDA (vigilância sanitária do país).

Tanto que, neste mês, a agência abriu uma investigação desses produtos, preocupada com a segurança e os efeitos na saúde de crianças e adolescentes.

A Associação Americana de Pediatria não recomenda o consumo de cafeína e outros estimulantes e diz não haver nível seguro para essa faixa etária. Para adultos, a FDA sugere o limite de 420 mg por dia, equivalente a quatro ou cinco xícaras de café.

O consumo excessivo de cafeína pode causar ansiedade, dor de cabeça, arritmia cardíaca e até infartos.

Mas estudos mostram que a substância causa uma melhora temporária cognitiva e psicomotora em pessoas que não estão com o sono em dia, propriedade que é o chamariz dos produtos cafeinados.

E não é só nos Estados Unidos que esse mercado cresce. No Brasil, uma cápsula de cafeína lançada recentemente anuncia ser "recomendada" para esportistas, motoristas que dirigem à noite, estudantes que precisam ficar acordados e executivos que desejam mais concentração.

"O estimulante em cápsulas é prático. Tomar uma pílula gera menos olhares no trabalho do que um energético", diz Samir Gabriel da Silva, diretor de novos negócios da pílula de cafeína Sintax.

Segundo ele, o produto (R$ 10 a cartela) tem vantagens em relação ao café e aos energéticos porque a cafeína anidra encapsulada é absorvida mais rapidamente e tem tempo de ação maior (seis horas por cápsula com 105 mg da substância).

Outra cápsula de cafeína à venda é a TNT Energy Caps (R$ 6 a cartela), que tem 210 mg de cafeína por comprimido -o mesmo que três latinhas de energético da mesma marca.

O cardiologista Luiz Antônio Machado César, coordenador da Unidade Café-Coração do InCor (Instituto do Coração da USP), afirma não ver vantagem nas cápsulas.

"Não faz sentido pra mim. Eu diria:'Tomem café'. É mais natural e tem antioxidantes."

Para o nutrólogo Celso Cukier, as cápsulas podem ser úteis em algumas situações, mas é preciso cuidado com as doses. "Uma coisa é tomar 200 mg, 350 mg de cafeína ao longo do dia. De uma vez só, ocorre uma neuroexcitação elevada e pode haver até arritmias perigosas."

A advogada Nicole Najjar, 30, sentiu os efeitos do excesso depois de ter ido a uma festa patrocinada por uma marca de energéticos, que oferecia a bebida à vontade.

"Não conseguia dormir depois. Estava com o coração acelerado e uma sensação de mal-estar. Fiquei tão preocupada que procurei um cardiologista depois, e ele disse para eu parar de usar."

Para o neurologista Leonardo Ierardi Goulart, do hospital Albert Einstein, porém, o principal prejuízo relacionado ao uso "terapêutico" da cafeína é a ilusão de que se pode ultrapassar limites.

"A única coisa capaz de restaurar de forma eficiente as capacidades de um organismo é um bom período de sono. Se existe excesso de fadiga, é um sinal de sobrecarga ou de alguma doença e a atitude correta é buscar ajuda especializada. Tratar sonolência com estimulantes não é coerente."

O pediatra José Luiz Setúbal, do Hospital Sabará, toca no mesmo ponto. "É reflexo da nossa sociedade, que precisa estar sempre hiperestimulada."


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