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'Cuidar de doente mental exige treinamento'

Psiquiatra André Carvalho defende em livro capacitação de clínicos gerais para tratamento

CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO

Um dos caminhos para melhorar o atendimento aos doentes com transtornos mentais no Brasil é a capacitação de outros profissionais de saúde, como os clínicos gerais, no atendimento às emergências psiquiátricas.

É o que defende o psiquiatra André Carvalho, professor da Universidade Federal do Ceará, e um dos autores do livro "Emergências Psiquiátricas" (Artmed Editora).

Carvalho diz que, ao mesmo tempo que as emergências dos hospitais gerais viraram porta de entrada para muitos doentes mentais, como mostrou a Folha anteontem, falta treinamento adequado aos médicos geralistas para atender esses transtornos.

O Ministério da Saúde diz que está nos planos do governo capacitar os clínicos para o atendimento das emergências psiquiátricas. A seguir, trechos da entrevista de Carvalho.

Folha - Como estão as emergências psiquiátricas?
André Carvalho - A situação é bem preocupante. Hoje temos um décimo do número de leitos psiquiátricos recomendados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Em alguns Estados brasileiros, menos que isso.
O novo modelo proposto não está maduro. A grande maioria dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial) não funciona à noite nem está presente em todas as cidades.
Isso leva os pacientes de emergências psiquiátricas aos prontos-socorros comuns. Só que esses locais são muitas vezes ineficientes nesses casos porque não há treinamento e conhecimento dos profissionais de saúde.
Soma-se a isso o fato de que temos um número muito reduzido de psiquiatras, que não são capazes de suprir a demanda das emergências.

*Falta capacitação ou é muito mais estigma em relação aos pacientes psiquiátricos?
As duas coisas. Ainda há muito preconceito. Estudos feitos na Europa e nos EUA demonstram que os médicos generalistas se sentem desconfortáveis e também não têm capacitação adequada para lidar com esses pacientes. Eles temem pela própria segurança.

Os médicos têm medo dos doentes mentais?
Há muitas concepções errôneas a respeito da periculosidade desses pacientes não só aqui como em sistemas de saúde bem mais consolidados, como o britânico.
Lá, estudos demonstraram que as consultas [com clínicos gerais e médicos de família] de pacientes com transtornos mentais graves, que têm outros problemas crônicos, como hipertensão e diabetes, são agendadas menos frequentemente se comparadas aos que não têm transtornos.

E por que isso acontece?
Porque esse profissional não está bem esclarecido sobre o que é o diagnóstico e as opções de tratamento. Nosso livro tenta viabilizar esse tipo de conhecimento, uma capacitação prática de avaliação e manejo de diversos quadros de emergência. É muito importante lembrar que uma grande proporção das pessoas que se suicidam consulta um clínico geral seis meses antes de cometer o suicídio, mas os médicos não conseguem detectar isso.

Falta também disseminar conhecimento às famílias?
Sem dúvida. As famílias precisam entender que os pacientes não fazem determinadas coisas porque querem ou porque são agressivos deliberadamente. São alterações cerebrais, bioquímicas, biológicas que geram esses comportamentos.


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