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Saúde + Ciência

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Teste de dieta falhou por ter EUA como base, diz Dukan

Criador do regime de proteínas ataca estudo independente que o reprovou

Nutrólogo francês diz que método foi aplicado a grupo que já comia carne demais; agora ele faz a própria pesquisa

GIULIANA MIRANDA DE SÃO PAULO

Com mais de 30 milhões de livros vendidos, o nutrólogo francês Pierre Dukan, 72, conquistou uma legião de fãs com sua dieta das proteínas que promete emagrecimento rápido e liberdade para comer uma centena de alimentos sem restrição.

A segurança do método, porém, é alvo de críticas de médicos, que dizem que o alto consumo de proteínas pode trazer problemas à saúde.

Dukan esteve recentemente no país para lançar uma versão de sua dieta para o paladar brasileiro, incluindo o consumo moderado de frutas, cuja ausência era criticada. Em entrevista à Folha, o médico contestou a qualidade de um estudo recente publicado na revista científica "Cell Metabolism" que associou o alto consumo de proteínas a problemas de saúde. Disse que pode haver interesses comerciais por trás do levantamento, mesmo que os autores não tenham declarado conflitos de interesse.

O médico revelou ainda que está preparando um novo livro, desta vez investigando as razões emocionais da felicidade e como isso influencia no ganho de peso. Leia trechos da entrevista.

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Folha - Por que a sua dieta tem a proteína como elemento principal?
Pierre Dukan - A base da alimentação dos seres humanos, há milhares de anos, são as proteínas e os vegetais. A proteína tem um poder maior de saciedade e há uma diferença entre as calorias que vêm das proteínas e as que vêm de outras fontes, como açúcar e gorduras. A digestão de proteínas gera um gasto calórico maior.
Além disso, o consumo de muito carboidrato e de muita gordura aumenta o colesterol e o diabetes, mas não há nenhuma doença que é causada pela ingestão de proteína.

Não é isso que dizem vários estudos, incluindo um mais recente que associou a alta ingestão de carne à maior incidência de câncer e diabetes [o trabalho foi publicado em março na "Cell Metabolism"].
O problema desse estudo mais recente é que ele é feito por americanos e sobre americanos, que já comem muita carne. E eles analisaram pessoas que comeram muita carne durante 18 anos.
O meu regime não é assim. São poucos dias de consumo exclusivo de proteínas. E não é a proteína o problema, mas sim a gordura.
Além disso, pessoas ligadas ao estudo podem ter interesses comerciais em produtos que vão contra a dieta das proteínas.

Mas há estudos independentes sobre a sua dieta?
Há dois estudos sobre a dieta em andamento, e somos nós quem pagamos por eles, porque fazer um estudo assim sai caro. Uma pesquisa feita pelo Ifop [instituto de pesquisa francês] com usuárias do serviço on-line de dieta mostra que a maioria perdeu peso e está satisfeita.

Como o senhor decide quais alimentos vai incluir na dieta? Por que incluir, por exemplo, porções de farelo de aveia como item obrigatório?
Eu descobri o farelo de aveia por acaso. Fui a uma conferência nos EUA e ganhei uma amostra. Um dia, minha filha estava com fome e queria algo saudável. Eu misturei o farelo com iogurte e fiz uma espécie de panqueca para ela de manhã. No almoço, ela me disse que ainda estava se sentindo satisfeita.
Então fui olhar a literatura e vi os benefícios. Além da saciedade, ele "sequestra" calorias no processo digestivo.

Na sua opinião, por que o mundo vive uma epidemia de obesidade?
Nosso organismo foi programado para lidar com privação de recursos e hoje a realidade é diferente.
Além disso, todos temos o que eu chamo de pulsar, o impulso da vida. E essa energia vital vem de dez recompensas. Você come, faz amor, tem uma família e espiritualidade, entre outras coisas. Todas as recompensas têm uma coisa em comum: produção de serotonina. É ela que dá energia a esse pulso da vida. Estou trabalhando em um livro sobre isso que vai se chamar algo como "Os dez pilares da felicidade".
Sempre conversei com os pacientes para entender por que eles comiam e percebi que a comida é uma das recompensas que está facilmente acessível, 24 horas por dia. A obesidade não é só um problema de nutrição. É um problema com a sociedade.


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