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Entrevista - Dan Fagin
Tóxicos são causa importante de doenças crônicas no mundo
AUTOR DE LIVRO GANHADOR DO PULITZER DESTE ANO SOBRE CASOS DE CÂNCER NOS EUA FAZ ALERTA PARA A POLUIÇÃO INDUSTRIAL
RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULOMichael Gillick tinha três meses de vida quando foi diagnosticado com câncer. Suas chances de viver mais do que seis meses eram de 50%, disseram os médicos aos pais do menino.
Mas ele sobreviveu e, na via-crúcis em hospitais e centros de tratamento, sua mãe descobriu que o caso do menino não era o único nas redondezas. Muitos dos vizinhos de quarto e colegas de hospital vinham da mesma comunidade.
Eram todos de Toms River, cidade da costa de New Jersey. Com detalhes dramáticos, "Toms River: A Story of Science and Salvation" investiga os casos de câncer na cidade e sua vinculação à poluição provocada por uma indústria química que começou a operar lá em 1952.
Mais que uma história de ciência e salvação, o livro do jornalista Dan Fagin, vencedor do Prêmio Pulitzer de não ficção neste ano, é um grito de alerta acerca dos riscos a que estamos todos submetidos se não houver regulamentação e controle sobre os dejetos industriais.
"Há sólida evidência de que a exposição a produtos tóxicos é uma causa importante de doenças crônicas, e têm ocorrido outros focos em outros pontos do país", diz Dan Fagin, 51, em entrevista à Folha, realizada por e-mail.
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Folha - O que fez com que o senhor se interessasse por escrever a história de Toms River?
Dan Fagin - Há muitos anos venho escrevendo sobre o desafio de entender a relação entre contaminação ambiental e doenças crônicas. Eu fui atraído pelo assunto não só porque é importante mas também porque é fascinante. Uma investigação epidemiológica é como uma história de mistério. Quando fiquei sabendo o que estava acontecendo em Toms River, pensei que a história poderia dar um bom livro que pudesse ajudar o público a entender melhor essas questões. Eu queria usar os eventos em Toms River para contar uma história mais ampla, sobre poluição e doença no mundo.
Quem o senhor considera o principal culpado pelo drama vivido pela população?
Há muitos culpados. Por décadas, a empresa química, o Estado e governos locais, a companhia de águas e muitos dos cidadãos de Toms River deixaram de enfrentar a realidade, de reconhecer o problema que estava acontecendo na cidade.
Em seu livro, o senhor coloca uma questão: O que foi que aconteceu em Toms River de verdade? O foco de câncer infantil ocorrido lá foi uma miragem, uma aberração ou um aviso?'. Qual é a sua resposta?
Acredito que foi um aviso. Há sólida evidência de que a exposição a produtos tóxicos é uma causa importante de doenças crônicas. Também acredito que estudar focos de doenças crônicas pode ser um importante meio de melhorar a saúde pública.
Pelo que o senhor sabe, há risco de outras cidades dos EUA viverem drama semelhante ao de Toms River?
Essa é uma questão que não pode ser respondida com certeza, mas nós sabemos que há muitos focos de doenças, a maioria deles não completamente investigada. Também sabemos que, nos raros casos em que são investigados, é muito difícil ter um resultado claro. É desafiador estabelecer se um determinado foco de doença ocorreu por acaso ou se tem uma causa específica, e mais problemático estabelecer essa causa.
Quais são os novos riscos da produção industrial? Ambientalistas vêm fazendo avisos contra a extração de gás de xisto...
Sim, há muitas razões para que fiquemos preocupados com a rápida expansão da exploração do gás de xisto. Sua extração e armazenamento não são bem regulados aqui nos EUA. De modo geral, o uso de gás é melhor do que o do carvão e, talvez, do que o uso do petróleo.
Se tivéssemos um plano para a transição de um sistema de energia descarbonizado então talvez fizesse sentido uma exploração do gás de xisto como uma ponte na direção do uso de energia solar, eólica e biocombustíveis.
Infelizmente, não estamos investindo muito em energia limpa; ao contrário, usamos esse tesouro de gás de xisto como uma forma de adiar o inevitável abandono, no futuro, de combustíveis fósseis.