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Saúde + Ciência

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Uso de vitamina D para tratar doença gera controvérsia

Protocolo brasileiro que usa altas doses da substância em pacientes com esclerose múltipla opõe médicos

Estudos de revisão sobre benefícios da vitamina questionam eficácia na prevenção de enfermidades

FERNANDO TADEU MORAES DE SÃO PAULO

O tratamento da esclerose múltipla, doença autoimune que ataca o sistema nervoso central, virou alvo de polêmica no mundo médico com o lançamento do livro "Vitamina D e Esclerose Múltipla: a chave brasileira das doenças autoimunes", do médico e político Walter Feldman.

O livro trata do protocolo para o tratamento de esclerose múltipla proposto pelo neurologista Cícero Coimbra, que vem sendo utilizado em clínica desde 2002.

O tratamento prevê a administração de altas doses de vitamina D, definidas de acordo com cada paciente, aliada à restrição da dieta láctea e à abundante hidratação.

Coimbra diz que estudos com altas doses de vitamina D para o tratamento de doenças o levaram a aplicar essa ideia para esclerose múltipla. O protocolo já foi utilizado em cerca de 3.000 pacientes.

Segundo Feldman, os resultados da aplicação do protocolo são impressionantes. "Com dois meses começa-se a registrar a ausência de surtos e progressão da doença."

No começo do ano, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) publicou um consenso sobre o tratamento da esclerose múltipla com vitamina D. "Não existem evidências científicas que justifiquem o uso dessa monoterapia no tratamento da esclerose múltipla", diz o texto.

O consenso também recomenda que contradições encontradas em pesquisas sobre o tema "indicam a necessidade de realização de estudos randomizados, controlados e duplo-cegos [tipo de experimento considerado o mais confiável na medicina]".

Para o reumatologista Morton Scheinberg, há uma corrente da enganação no caso do tratamento com vitamina D: "Você acredita que está me tratando, eu acredito que estou sendo tratado, mas no fundo nenhuma dessas coisas está acontecendo".

Coimbra diz que não faria exames duplo-cegos em seus pacientes porque considera inaceitável dar placebo (exigência desse tipo de experimento) para seus pacientes.

Coimbra e Feldman dizem que a resistência ao tratamento defendido está ligado também a pressões da indústria farmacêutica. "O SUS gasta cerca de R$ 350 milhões por ano com remédios para esclerose múltipla", diz Feldman.

BOA PARA OSSOS

A vitamina tem um papel consolidado na literatura médica como um importante fator da saúde dos ossos. Dois grandes estudos de revisão foram publicados este ano no "British Medical Journal" e no "Lancet Diabetes & Endocrinology" sobre os benefícios da vitamina D.

O trabalho publicado no "Lancet" diz que, além do benefício para os ossos, nas últimas décadas foram acumuladas evidências circunstaciaisde que a vitamina D teria um papel protetor em diversos transtornos, incluindo câncer, doenças cardiovasculares e inflamatórias, demência e diabetes.

Entretanto, resultados de vários estudos recentes controlados e randomizados são quase unânimes em concluir que a suplementação de vitamina D praticamente não provê proteção para nenhuma dessas doenças citadas.

"Não há evidências científicas de que a vitamina D seja causadora de doenças, exceto em casos de hiperdosagem, nem que isoladamente sirva como tratamento para qualquer doença", diz Scheinberg.


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