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Fábrica de mosquito transgênico antidengue abre em Campinas
Municípios do interior sondam empresa em busca de parceria
Alimentados com ração para peixe e tendo à disposição um suprimento de sangue de carneiro, os mosquitos transgênicos da empresa britânica Oxitec, que inaugurou sua fábrica ontem em Campinas, podem se tornar uma nova opção no combate à dengue.
Com capacidade inicial para produzir 2 milhões de Aedes aegypti machos estéreis por semana, a companhia já negocia com alguns municípios a implementação de sua estratégia de erradicação do inseto vetor da doença.
Entre as prefeituras que enviaram representantes à inauguração da fábrica ontem, a de Piracicaba era aquela que estava em conversação mais adiantada para levar o serviço biotecnológico à cidade. Os municípios de Campinas, Nova Odessa e Americana também sondaram a Oxitec, mas não há nenhum acordo em negociação ainda.
A empresa, na verdade, não possui licença para comercializar o serviço, que deve ser concedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A Oxitec já obteve aval da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança para conduzir testes de campo, porém.
A empresa fez uma proposta à prefeitura de Piracicaba para realizar um teste piloto numa área de proliferação concentrada do Aedes aegypti. Se o acordo vingar, os mosquitos devem ser soltos por volta de setembro, melhor época do ano para sabotar a reprodução do mosquito.
PLANOS DE EXPANSÃO
Apenas a fêmea de Aedes aegypti pica pessoas e transmite a dengue. O inseto transgênico macho da Oxitec impede a proliferação delas ao fecundá-las com esperma que gera filhotes inviáveis. Ao perder a oportunidade de copular com machos saudáveis, as fêmeas deixam de se reproduzir, e a população do mosquito começa a cair.
Apesar de parecer grande, a taxa atual de produção de mosquitos da Oxitec só comporta um plano de erradicação para uma zona habitada por 10 mil a 15 mil pessoas.
"Vamos construir instalações maiores no futuro", disse à Folha Glenn Slade, diretor global de negócios da empresa. "A estimativa de custo para implementar um programa de erradicação numa cidade de 50 mil pessoas seria entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões para o primeiro ano. Nos anos seguintes o custo anual cai para R$ 1 milhão."
A fábrica de Campinas usa uma linhagem de mosquitos geneticamente modificados desenvolvida na Inglaterra, mas não requer infraestrutura sofisticada. Dentro do prédio, o que mais se vê são gaiolas e recipientes para manter a colônia de mosquitos e suas larvas. Para separar machos e fêmeas --etapa essencial do projeto--, os cientistas monitoram o tempo de maturação das larvas e desenvolveram peneiras especiais.