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Modelo propõe que marcações no DNA levariam à homossexualidade

Leitura dos genes pode explicar lado hereditário da orientação

MARCO VARELLA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma equipe de cientistas está propondo um novo modelo biológico para explicar a existência da homossexualidade usando a epigenética -ou seja, alterações na maneira como os genes são lidos, e não no próprio DNA.

A proposta é que a homossexualidade seria consequência da transmissão, para os filhos, de marcadores responsáveis pela ativação de genes que direcionam o desenvolvimento sexual.

O estudo teórico foi publicado neste mês na revista científica "The Quarterly Review of Biology". William Rice, da Universidade da Califórnia, é o autor principal.

EPIGENÉTICA

Os marcadores epigenéticos são moléculas que se ligam ao DNA, ajudando a ativar ou silenciar genes.

Na maioria das vezes, essas marcas não passam de uma geração para outra, sendo apagadas e restabelecidas de outra maneira nos óvulos e espermatozoides.

As marcas que aumentam a sensibilidade ao hormônio masculino testosterona na gestação garantem a masculinização de bebês meninos, enquanto as que diminuem a sensibilidade à testosterona "feminizam" as meninas (mulheres têm testosterona, pois ela também é produzida nas glândulas adrenais).

Quando essas marcas não são apagadas em meninas, porém, elas dariam origem a filhas com tendências homossexuais. E, quando as marcas que diminuem a sensibilidade à testosterona passam para os filhos, dariam a eles mais tendências à homossexualidade. A simulação do modelo mostrou que isso pode se manter na população.

Para Eduardo Gorab, geneticista do Instituto de Biociências da USP, "a novidade é que a proposta não se baseia em genética, como já foi feito, mas em fatores epigenéticos". "Como hipótese, não deixa de ser interessante."

A proposta tenta explicar a prevalência da homossexualidade em 8% da população humana, predominantemente em famílias, bem como o fato de estudos genéticos não mostrarem uma explicação consistente para isso.

No caso de gêmeos idênticos, nem sempre ambos são gays, embora eles compartilhem 100% de seus genes. Isso sugere um fator hereditário além da genética.

O modelo prevê, por exemplo, que estudos epigenéticos vão mostrar diferenças significativas entre heterossexuais e homossexuais.

Segundo Jaroslava Valentová, antropóloga do Centro de Estudos Teóricos da Universidade Karlova, na República Tcheca, e especialista em evolução da homossexualidade, o estudo apresenta uma "real alternativa para o desenvolvimento e a evolução" dessa orientação.

PONTOS FRACOS

Para Gorab, a proposta incorre em uma "generalização demasiado ampla sobre epigenética sem pistas concretas". Valentová aponta que "os autores não definiram precisamente a homossexualidade", misturando todos os não heterossexuais exclusivos, incluindo bissexuais.

Ela ressalta que "os autores não mencionaram a diferença fundamental na orientação sexual masculina e feminina". A masculina tem mais fatores genéticos descritos e muda menos ao longo da vida do que a feminina.

Valentová ainda diz que os autores consideram a orientação homossexual como necessariamente atrelada a traços atípicos de cada sexo.

"Mas um terço dos homens homossexuais tem comportamento considerado masculino, e uma proporção ainda maior das lésbicas seria classificada como feminina."

A busca por explicações biológicas para a homossexualidade, faz sentido porque formas de relacionamento entre membros do mesmo sexo são encontradas em quase todas as culturas estudadas, e estão presentes ainda em vários outros animais.


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