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Saúde + Ciência

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Cirurgia sem corte corrige defeito congênito em feto

Operação realizada em hospital de São Paulo é a primeira do tipo na América Latina

Menino que deve nascer em maio foi operado por meio de três furos na barriga da mãe, na 27ª semana de gestação

CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO

Faltam ainda dois meses para Igor nascer, mas o menino de 1 kg e 35 cm já foi operado dentro do útero para corrigir um defeito congênito na coluna vertebral.

Ele é o primeiro bebê da América Latina a ser submetido a uma endoscopia fetal para tratar a mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida, uma malformação cuja principal sequela é a hidrocefalia (acúmulo de água no cérebro).

O problema afeta 3.000 bebês por ano no Brasil.

Igor foi operado por meio de três pequenos "furos" na barriga da mãe, por onde entraram os instrumentos cirúrgicos e a câmera de vídeo. Não houve corte.

"Ele pula sem parar aqui dentro. Nem parece que passou por uma cirurgia", diz a mãe, Oladiane Werner, 33.

A técnica foi desenvolvida na Alemanha em 2009. Desde então, 70 bebês foram operados por lá. Mas o próprio grupo que criou o método diz que ainda é preciso mais tempo e aprimoramento antes de adotá-lo em larga escala.

A cirurgia de Igor aconteceu no Hospital Samaritano (SP) há duas semanas. A mãe está agora na 29ª semana de gestação e tem de manter repouso até o bebê nascer.

O defeito congênito causa um fechamento incompleto da coluna, e a medula fica exposta ao líquido amniótico. Isso lesiona os nervos.

Daí a necessidade de operar a criança antes do nascimento. Estudos demonstraram que a cirurgia fetal reduz pela metade os riscos de hidrocefalia em comparação à feita após o bebê nascer. Mas a operação aumenta as chances de prematuridade.

COMPARAÇÃO

A técnica consagrada para corrigir o defeito antes do nascimento é a "cirurgia a céu aberto". No Brasil, o método é usado há uma década.

A principal diferença entre a nova cirurgia endoscópica e a "aberta" é que esta necessita de um corte de 7 cm a 10 cm na barriga e no útero.

Segundo a médica Denise Pedreira, especializada em medicina fetal endoscópica e responsável pela cirurgia de Igor, como deixa uma cicatriz no útero, a cirurgia aberta traz mais riscos de ruptura uterina tanto na gestação em curso como nas seguintes.

"A gestante também tem um risco aumentado de desenvolver edema pulmonar por causa das altas doses de medicação que recebe para manter o útero relaxado."

Na sua opinião, a cirurgia endoscópica é menos arriscada. "Ela abre uma nova fronteira de tratamento."

O médico Antonio Moron, professor titular do Departamento de Obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), discorda que na cirurgia aberta haja mais riscos. "Não há estudo comparativo que demonstre isso."

Precursor da cirurgia aberta no Brasil, Moron diz que a técnica endoscópica ainda precisa demonstrar sua segurança e eficácia no tratamento da mielomeningocele.

Ele afirma, no entanto, que todo avanço é bem-vindo. "Temos que buscar o melhor para a mãe e para o bebê."

Para Renato Sá, presidente da comissão de medicina fetal da Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia), a cirurgia fetal endoscópica abrirá um leque de opções de tratamento de outras anomalias fetais.

"Vai preservar a saúde e a história reprodutiva da mãe."


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