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Minha história - Paul Miller, 27

Um nerd fora da rede

Jornalista de tecnologia e usuário contumaz de redes sociais ficou off-line por um ano após sentir-se sufocado por tanta informação

RESUMO - O jornalista especializado em tecnologia Paul Miller, 27, viveu off-line e sem trocar mensagens de texto entre 1º de maio do ano passado até a última quarta-feira. A decisão de desconectar veio quando o fluxo de informação anulou sua produtividade. Neste relato, feito à Folha por telefone na quinta-feira, Miller conta como viveu longe do Skype e do Twitter, suas ferramentas favoritas --e por que isso foi ineficaz.

YURI GONZAGA DE SÃO PAULO

Usei a internet pela primeira vez quando tinha 12 anos, e logo no início já era um usuário bastante assíduo. Comecei a criar sites com cerca de 14. Por volta dos 20, iniciei minha carreira como jornalista de tecnologia.

Crescendo, eu era o amigo nerd --o resto das pessoas era mais normal. Mas eu mantinha certo equilíbrio: um dos meus dois empregos não dependia de internet.

Foi quando comecei a escrever profissionalmente que as coisas ficaram intensas. Era o dia todo, todos os dias. Trabalhava 60 horas, até 80 horas semanais na rede.

Aos 26 anos, senti que a internet não me permitia mais ir para a frente. Sempre havia mais mensagens de e-mail, mais tuítes e mais notícias --em um fluxo que não tinha fim. Eu não conseguia relaxar. Estava esgotado.

Provavelmente, a pior coisa era o e-mail, mas mensagens de texto também são desse tipo de comunicação que pode acumular --você não consegue responder tudo na hora e deixa muito para trás.

Então, decidi dar um tempo. Meu chefe propôs pagar para que eu continuasse escrevendo para [o site] "The Verge" [Miller aceitou].

Minha principal motivação era estudar. Nunca fiz faculdade, então queria passar esse ano lendo livros para me educar. Também desejava escrever um romance.

TUITANDO NA RUA

Eu realmente amo o Twitter. Sempre há algo novo para clicar: o próximo quadrinho, o próximo vídeo engraçado. Durante cinco horas a fio. Eu fazia muito isso --fora do expediente ou durante ele.

Senti muita falta do Twitter durante o começo do meu período off-line. Para compensar meu impulso que tinha de compartilhar tudo, tive de falar com as pessoas.

Comecei a conversar [com estranhos] no elevador, na calçada --só para ter esse tipo de interação social.

Isso foi algo novo. Mas essa ânsia foi se dissipando, e me livrei dela depois de um tempo. Em Nova York, as pessoas não falam com as outras. Se você não conhece alguém, nem deve olhá-lo nos olhos.

Acho que há um monte de relações frouxas na internet. Se você se senta em frente a uma pessoa e conversa com ela cara a cara pode ter uma interação realmente profunda. Mas isso nem sempre é possível --e manter contato é mais importante para mim.

Falar com um amigo só pelo Facebook não significa que a amizade é perfeita, mas isso é melhor do que nada.

ÓCIO IMPRODUTIVO

Imaginei que teria muito tempo disponível --e realmente tive. Só não soube aproveitá-lo tão bem quanto eu imaginava.

Li alguns livros, produzi algo, mas não terminei meu romance e nem sei se conseguirei fazê-lo. Comprei e aluguei muitos filmes, escutei discos de vinil. Acabei gastando muito do meu tempo jogando videogame.

No geral, não sou muito produtivo. Sou preguiçoso. Mas tenho problemas em consumir conteúdo passivamente (e isso a rede propicia demais), porque sou uma pessoa criativa. Isso não é culpa da internet, mas minha.

Não diria que foi um erro ficar off-line, mas minha hipótese se mostrou incorreta: mesmo sem a distração da internet, eu não sucedi nas coisas que mais queria fazer. Mas o experimento fez com que aprendesse sobre mim.

Não recomendaria às pessoas que se desconectassem só por desconectar. Mas muitas coisas merecem atenção exclusiva, e para alguns isso só acontece tirando o laptop do colo, desligando o celular. A questão é achar um ponto de equilíbrio, e isso é difícil.


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