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Análise

Impressão 3D é boa para criatividade e liberdade, mas ruim para segurança

HÉLIO SCHWARTSMAN COLUNISTA DA FOLHA

Armas para imprimir em casa são só o começo. Na visão edulcorada dos adeptos de Ray Kurzweil e sua singularidade, a impressão em 3D é o início de uma revolução que culminará na transformação do próprio homem em ciborgues imortais e outras realidades que ainda nem somos capazes de imaginar.

Não precisamos, porém, comprar pelo valor de face as teses dos transumanistas para perceber que essa tecnologia é importante.

A possibilidade de baixar em seu computador doméstico as instruções para criar uma mercadoria e mandar manufaturá-la na impressora ao lado modifica radicalmente as relações de produção, se é lícito empregar um vocabulário meio envelhecido.

Gostou daquela câmera de vídeo anunciada na Amazon? É só comprá-la e esperar que fique pronta na mesinha ao lado, numa transação que não envolve mais confecção em fábricas especializadas nem transporte físico. Todo valor é traduzível em instruções que seguem um código binário.

De fato, as coisas estão evoluindo rapidamente. As primeiras impressoras em 3D custavam dezenas de milhares de dólares, eram lentas e operavam com uma gama muito restrita de materiais.

A nova geração apresenta máquinas que custam pouco mais de mil dólares, são bem mais velozes e podem trabalhar com plástico, vidro, titânio e até com misturas ainda pouco conhecidas disso tudo.

Se tudo seguir no rumo imaginado por visionários como Peter Diamandis e Steven Kotler, autores de "Abundance", a própria noção de produto terá de ser ampliada, pois estaremos aptos a fazer em casa não apenas itens tradicionais como também peças biológicas, incluindo próteses e órgãos sobressalentes.

Some-se a isso os avanços na informática que prometem levar à computação infinita e o céu é o limite.

A prudência, entretanto, recomenda descontar um pouco do otimismo dessa turma da singularidade. Mesmo que os avanços tecnológicos caminhem mais ou menos no rumo por eles preconizado, teremos de lidar com uma série de problemas.

Construir qualquer tipo de engenhoca na impressora doméstica pode ser o sonho do consumidor, mas gera uma série de efeitos econômicos que não podem ser ignorados. Se a moda pega, os empregos industriais ficariam reduzidos à produção dos materiais usados pelas impressoras. O setor de logística também sofreria pesadas baixas.

E não é só. Como mostra o caso das armas, governos de todo o mundo perderiam muito do controle que hoje ainda conseguem exercer. Isso pode ser bom para a liberdade e a criatividade, mas é ruim para a segurança.

Num movimento análogo ao que ocorreu com as indústrias fonográfica e cinematográfica, os próprios produtores de inovação teriam dificuldades para monetizar seus esforços e continuar criando. Até intelectuais marxistas teriam problemas para descobrir aonde foi parar a mais-valia.


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