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Formula do amor

Caminho para encontrar o par romântico, paquera via internet depende mais de matemática do que de carisma

JAMES BRIDLE DO "OBSERVER"

Na metade de 2012, Chris McKinlay estava concluindo sua tese de mestrado em matemática na Universidade da Califórnia. Isso requeria muitas noites de trabalho, para realizar seus cálculos com ajuda de um supercomputador ao qual tinha acesso apenas de madrugada, quando o custo de uso é mais baixo.

Enquanto o computador conduzia os cálculos, ele matava o tempo em sites de paquera, mas sem muita sorte. Até que ele identificou uma conexão entre as atividades.

Um de seus sites favoritos, o OkCupid, unia os participantes usando as respostas a perguntas postadas por outros usuários do site.

"Certa noite percebi que a maneira pela qual as pessoas respondiam às perguntas do OkCupid gerava um conjunto de dados muito semelhante àquele que eu estava estudando", disse McKinlay.

Ele resolveu criar um conjunto de perfis falsos e desenvolver programas para responder a perguntas que também tivessem sido respondidas por usuários compatíveis. Esta era a única maneira de ter acesso às respostas dessas pessoas, e, com isso, calcular de que maneira o sistema emparelhava os usuários.

Ele conseguiu reduzir cerca de 20 mil outros usuários a sete grupos. Depois, ajustou seu perfil real para se enquadrar melhor a eles. Aí começou a receber respostas.

A operação de McKinlay foi possível porque o OkCupid, e muitos outros sites do gênero, são muito mais que simples redes sociais, nas quais as pessoas postam perfis. Serviços como esse buscam emparelhar usuários ativamente, usando uma série de técnicas que eles vêm desenvolvendo há décadas.

Cada um desses sites hoje alardeia contar com tecnologias "inteligentes". Mas, no caso de McKinlay, os algoritmos em uso não funcionavam bem o bastante, o que o levou a criar uma fórmula pessoal. Mas e os simples mortais, que não têm esse conhecimento?

A ideia de que a tecnologia pode facilitar tarefas complicadas, e até dolorosas --como a busca do amor--, é onipresente e sedutora, mas será que a capacidade desses serviços para realizá-las está sendo superestimada?

Na metade de 1965, um aluno de graduação da Universidade Harvard, chamado Jeff Tarr, percebeu isso cedo. Ele estudava matemática, tinha alguma experiência com computadores e estava certo de que seria possível usá-los para conhecer mais garotas.

Ele e um amigo escreveram um questionário que permitia que universitários definissem seus pares ideais e o distribuíram pelas faculdades.

Entre as perguntas estavam, por exemplo, "atividade sexual extensa em preparação para o casamento é parte de ser adulto?". As respostas logo começaram a chegar, em grande número. Com isso nasceu a Operation Match.

Para processar as respostas, Tarr teve de alugar um computador IBM 1401 de cinco toneladas, por US$ 100 a hora, e de pagar um colega para programá-lo.

Cada questionário foi transferido a um cartão perfurado, inserido na máquina, e, no fim do processo, o sistema fornecia uma lista de possíveis parceiros, com endereço, telefone e data de graduação, posteriormente encaminhada ao respondente.

Quando Gene Shalit, repórter da revista "Look", chegou para cobrir a cena emergente dos encontros por computador, em 1966, a Operation Match alegava ter 90 mil inscritos e faturado US$ 270 mil.

"Não estamos tentando tirar o amor do amor; só queremos tornar o processo mais eficiente. Fornecemos tudo menos a fagulha [de atração]", disse Tarr à revista.

Nos anos transcorridos desde que Tarr começou a enviar seus questionários, os encontros por computador evoluíram. A mudança mais importante é que eles passaram a funcionar on-line.

VAI DAR CASAMENTO?

A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos reportou, em 2013, que mais de um terço das pessoas que se casaram no país entre 2005 e 2012 conheceu seu parceiro na web, e que metade disso o fizeram em sites de encontros. Estudos preliminares também demonstraram que as pessoas que se conhecem on-line apresentam probabilidade ligeiramente menor de se divorciar e alegavam ter casamentos mais felizes.

O Match.com, fundado em 1993, foi o primeiro grande serviço do segmento e continua a ser o maior do mundo. Ele não faz alegações ousadas sobre a qualidade dos relacionamentos e pessoas, diz só que haverá muitas delas.

A eHarmony, surgida em 2000, adotou modelo diferente. Promete aos usuários relacionamentos de longo prazo. Seu fundador é Neil Clark Warren, psicólogo e professor de teologia da região rural do Iowa que tinha 76 anos quando criou a empresa.

Ele conduziu três anos de pesquisa com 5.000 casais casados para definir seu algoritmo perfeito.

E a eHarmony leva isso tão a sério que precisou criar uma empresa para unir homossexuais, a Compatible Partners, em 2009, após ser alvo de processos judiciais porque se recusou a fornecer serviços para casais gays. Muita gente presumiu ser resultado do conservadorismo de Warren.

A empresa rebateu, alegando que era a matemática, e não a moralidade, que determinava sua atitude: eles simplesmente não dispunham de dados que pudessem lastrear uma promessa de relacionamento de longo prazo para casais homossexuais.

AQUI E AGORA

Em 1966, em Harvard, Jeff Tarr sonhou com uma versão futura do seu Operation Match que operasse em tempo real e espaço real. Ele imaginou instalar milhares de máquinas de escrever por todo o campus, cada qual ligada a um computador central.

Tal visão começou a se tornar realidade com uma nova geração de apps de encontros acionados por smartphones.

Saem de cena os algoritmos, entra a geolocalização.

O Tinder, criado em 2012, é o de crescimento mais rápido. Mas o app está menos interessado nos aspectos científicos da união de parceiros do que seus predecessores.

Questionada acerca do que aprendeu sobre os usuários, com base nos dados recolhidos, a companhia disse que o dado que mais interessa é "o número de encontros que uma pessoa precisa antes de se viciar no produto".


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