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Nos passos de Picasso

Museu dedicado à obra do pintor andaluz ajudou a transformar o centro de Málaga, fazendo da cidade ponto turístico da Espanha

ANNIE BENNETT DO "FINANCIAL TIMES"

Uma década atrás, eu estava no El Pimpi, um dos tradicionais bares de tapas de Málaga, conversando com o arquiteto Richard Gluckman sobre seu projeto para o Museu Picasso, que tinha acabado de ser inaugurado logo ao lado.

Para criar o museu, Gluckman havia remodelado uma casa renascentista do século 16, o palácio de Buenavista, acrescentando uma nova ala para exposições transitórias.

Partes de Málaga, na Andaluzia espanhola, estavam dilapidadas na época e algumas ruas continuam precárias --mas a área em torno do museu passou por uma transformação e os efeitos se fazem sentir no centro da cidade.

Pouco antes do décimo aniversário do museu, no fim de outubro, perguntei a José Lebrero Stals, o diretor da instituição, sobre seu impacto na cidade. "O museu desempenhou papel crucial na regeneração do centro de Málaga, e ajudou a cidade a se tornar um polo turístico", disse.

Antes de o museu ser inaugurado, muitos turistas vinham a Málaga das cidades de praia da Costa del Sol, mas em geral apenas para passar o dia (muitas vezes escolhendo como local de visita a loja de departamentos El Corte Inglés). Agora, o museu se tornou o foco principal de muitos visitantes.

VIDA, OBRA E RUÍNAS

Na esplanada que foi criada nos fundos do museu, El Pimpi se expandiu com mesas de calçada e um novo restaurante de frutos do mar. Em um almoço durante a semana, recentemente, o terraço estava lotado. Mesmo em dezembro e janeiro, o clima é quente e o céu é ensolarado o bastante para permitir almoços ao ar livre.

Picasso nasceu a alguns minutos de distância, em uma casa na Plaza de la Merced, onde as crianças continuam a perseguir os pombos, como Picasso e suas irmãs faziam.

"Para abrigar o museu, a família queria uma edificação tradicional de Málaga, que Picasso tivesse conhecido", diz Stals. "Nossa coleção foi doada pela família de Picasso, que desempenhou papel-chave para que o museu ficasse na cidade. O acervo permite que os visitantes acompanhem a vida de Picasso do final do século 19 até sua morte, em 1973. Não temos as melhores obras aqui, mas temos um local que nenhum outro museu pode ter".

Também há ruínas romanas e fenícias, descobertas durante a reforma do museu, e que podem ser vistas se você descer ao porão.

Ruínas das diferentes civilizações que se assentaram em Málaga são descobertas o tempo todo, e regularmente interrompem as obras no sistema de metrô da cidade.

A importância da cidade nos tempos romanos é confirmada pelo anfiteatro atrás do museu --o local em que marquei encontro com o guia Victor Garrido. "Temos aqui também parte de um muro fenício, a fundação de uma torre cartaginesa, pedaços de banhos gregos, e muito mais."

Na colina atrás do museu fica a Alcazaba, fortale- za moura que estava entre as primeiras lembranças de Pablo Picasso.

TAPAS E CAMARÕES

Caminhamos pelas ruas do centro, a maioria das quais hoje reservadas a pedestres e ladeadas por lojas e bares de tapas. Dani García, que conquistou duas estrelas no guia "Michelin" por seu restaurante Calima, em Marbella, também comanda o elegante gastrobar Manzanilla, na Calle Fresca, conhecido por seu irresistível hambúrguer de touro.

Diante do bar, ele comprou uma casa tradicional de culinária e abriu o Wendy Gamba, onde os camarões servidos com uma massa batida com a cerveja local Victoria estão entre os pratos favoritos da cidade.

Cruzamos a Plaza de La Constitución e caminhamos até o Museu Carmen Thyssen, que se concentra em pintura espanhola do século 19. Como o Museu Picasso, ele ocupa um palácio do século 16.

"Esta rua, a Andrés Pérez, era bastante perigosa, mas olhe todas as obras em curso agora", disse Garrido. Uma das edificações mais antigas da área, a Casa del Cardenal, um palacete que data do século 17, abriga um antiquário com peças espalhadas por salões grandiosos e um agradável pátio. O proprietário Paco Cano, presidente da associação de moradores do bairro, me disse que as lojas da rua haviam se unido para promover a limpeza de suas fachadas.

Naquela tarde, visitei o CAC, o museu de arte contemporânea de Málaga. A instituição é mais uma das forças catalisadoras de renovação local. Pouco depois de aberto, artistas começaram a se mudar para as ruas empobrecidas perto do museu, entre o porto e o bulevar Alameda, atraídos pelos baixos aluguéis e pelos espaços disponíveis.

O dinâmico diretor do CAC, Fernando Francés, vem comandando o rejuvenescimento da área --que agora é conhecida como Soho e se tornou um bairro artístico.

Na esquina do bulevar Tomás Heredia, recentemente transformado em rua de pedestres, assisti ao artista Dadi Dreucol sendo erguido por um guindaste até a empena de um edifício onde ele passou o fim de semana pintando um mural inspirado por Heredia, figura-chave no desenvolvimento industrial de Málaga no século 19.

O mural é parte do projeto MAUS (Málaga Arte Urbano Soho), que convida fotógrafos, artistas e designers a criar arte de rua e decorar paredes, janelas e metálicas da área.

BIKE À BEIRA-MAR

As praias de Málaga se estendem por quilômetros, dos dois lados do porto. Encontrei-me com meu amigo, o roteirista José Luis Gallardo, que voltou de Madri à sua cidade natal, e passeamos de bicicleta à beira-mar até La Térmica, um centro cultural inaugurado no começo do ano.

"Quando crianças, gostávamos de vir a esse pedaço da praia porque a água era mais quente --a usina despejava água quente no mar", disse Gallardo.

Agora, apenas algumas chaminés de tijolos marcam a paisagem costeira, os últimos resquícios da herança industrial de Málaga. Enquanto a noite chegava, víamos pessoas bronzeadas correndo e pedalando à beira-mar.

Com seus novos museus, bares de tapas, lojas e projetos imobiliários na faixa da costa, talvez seja a hora de os moradores de Málaga pararem de pedir desculpas por não serem os melhores em tudo.


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