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Os sons de Salvador

Maratona musical de dois dias na capital baiana vai de show de 'big band' a ensaio do Olodum no Pelourinho com 1.500 pessoas

MICHAEL KEPP ESPECIAL PARA A FOLHA

Salvador é uma cidade tão rítmica e musical que, em visita recente, evitei seus cartões-postais --desde o Mer-cado Modelo até a Igreja do Bonfim--, optando em lugar disso por pesquisar seus sons percussivos.

A maioria deles emana do Pelourinho, no centro his- tórico da cidade, onde ensaiam blocos afros e carnavalescos. Esses ensaios são realizados nos palcos de grandes pátios internos, cobertos com lonas, que comportam mais de mil pessoas.

Na tarde de um domingo, minha primeira parada foi no ensaio do afoxé Filhos de Gandhy. Integrantes do bloco tocavam atabaques (tambores cilíndricos) e agogôs, que marcam o ritmo, chamado ijexá, uma batu- cada suave e cadenciada. Seus cantos são hinos de paz e fé, como se poderia esperar de um bloco que leva o nome do líder hindu.

Em seguida, fui ao ensaio do bloco afro Olodum num pátio do Pelourinho, me comprimindo no meio de um público de 1.500 pessoas. Esse bloco toca samba-reggae, um misto de samba e reggae jamaicano cujo ritmo é ditado por surdos, tambores de grandes dimensões com sons muito graves. Nas noites de terça-feira, os ensaios do Olodum incluem sopros, que deixam seu som mais harmônico e dançante.

Com o batuque do Olodum ainda reverberando nos ouvidos, fui à Concha Acústica, anfiteatro que é um "point" musical no bairro de Campo Grande. Ali, a Orkestra Rumpilezz, misto de atabaques e muitos sopros no formato "big band", criou um som de raízes africanas e jazzísticas.

Lenine e Margareth Menezes eram seus vocalistas convidados. Depois disso foi o BaianaSystem. A guitarra baiana (imagine um bandolim elétrico), o baixo, a bateria e o vocalista dessa banda fundem frevos com música jamaicana. O diálogo que a banda criou com seu DJ, operando um sistema psicodélico de som, levou um público de 8.000 pessoas a dançar freneticamente.

Apesar dos meus ouvidos e pés já estarem exaustos, me arrastei para ouvir a Timbalada, banda fundada por Carlinhos Brown, que tocava num enorme pátio ao ar livre, com muros altos, no bairro do Comércio.

Os timbales da banda, com o formato de atabaques, mas com som mais alto e agudo, eram acompanhados por sopros e vocalistas. O som era um misto eclético de axé, samba e releituras percus- sivas de sucessos da MPB. Era tão eletrizante que a plateia de 2.000 pessoas dançou em êxtase, especialmente quando Carlinhos Brown fez uma participação.

Na noite de segunda, já recuperado da maratona do domingo, voltei ao Pelourinho para o ensaio do bloco Cortejo Afro. Sua banda --surdos, tambores menores, uma guitarra, um baixo e um saxofone-- combina ritmos africanos com batidas eletrônicas.

Como o Olodum, as letras de suas músicas louvam valores negros, e, como a Timbalada, suas releituras percussivas de sucessos da MPB puseram a plateia de mil pessoas para dançar.

Há ensaios de blocos quase todas as noites da semana no Pelourinho nos três meses antes do Carnaval. Mas, para mudar de som, na noite de terça ouvi Gerônimo e sua banda tocar num palco montado ao pé da escadaria de uma igreja no mesmo bairro. Gerônimo canta músicas que compôs com ritmos ijexá suaves, influências afro-caribenhas e letras sobre o orgulho negro.

Ele geralmente atrai 2.000 pessoas. Mas naquela noite, sob uma garoa forte, apenas 350 fãs em pé sobre a escadaria se balançaram ao som de sua música relaxante. Para mim, Gerônimo foi o antídoto perfeito à batucada toda que eu já tinha ouvido. Para quem gosta de Carnaval, a hora é agora: além de shows, há ensaios dos blocos.


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