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Turismo

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Garfo na mão e pé na areia

Eles não estão nos guias turísticos nem na internet, mas servem os frutos do mar mais frescos das praias do Nordeste; conheça 4 restaurantes 'gastro-caipiras'

ANTONELLA KANN COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Seus nomes não constam dos guias turísticos tradicionais e, na maioria das vezes, não estão no mapa da região. E de pouco adianta bisbilhotar o Google porque eles não têm site ou sequer um endereço ortodoxo. Quando muito, existe um número de telefone.

Pudera. Esses restaurantes -- que vamos chamar de "gastro-caipiras"-- não passam de barracas, mas é onde se come bem o que há de melhor em frutos do mar.Chegar a esses restaurantes é uma caça ao tesouro, na qual a indicação é sussurrada pelos habitantes e pelo dono da sua pousada.

E, prepare-se: outra característica em comum é que o caminho de acesso está sempre atrelado a uma logística --pode depender dos caprichos da maré ou de uma picape tracionada. Em compensação, quando você chega munido de recomendação de alguém que já passou pela experiência gastronômica, é acalentado como um amigo da família.

Pelos próprios donos, é claro, sempre presentes, já que são eles quem pilotam o fogão, servem a clientela e não hesitam em sentar na sua mesa para saber quem você é e se a comida está agradando.

Conhecidos apenas pelo primeiro nome (ninguém está nem aí para o sobrenome e nem eu me atrevi a perguntar), seu Guido, do restaurante que leva seu nome na Bahia, o Momo e dona Lucia, do Paraíso Tropical, no Rio Grande do Norte, e dona Magnolia e seu Antonio, do Canto dos Lençois, no Maranhão, são artesãos culinários. Orgulham-se de suas especialidades e fazem questão de manter alguns ingredientes de suas receitas no fundo do baú.

Nos restaurantes "gastro-caipiras", as mesas e as cadeiras são de plástico, os guardanapos, de papel e os copos podem ser de requeijão. Nada que atrapalhe a refeição emoldurada por um ambiente decorado pela natureza.

PARAÍSO TROPICAL (RN)
O caminho tortuoso pela lagoa Guaraíras, próximo a Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte, é melhor enfrentado por uma das embarcações típicas da região. Sob o comando de um mestre experiente, evita-se encalhar nos bancos de areia. Em volta, temos praias superpreservadas do litoral potiguar. É em uma das margens desta lagoa, vegetação adentro, que se aninha o Paraíso Tropical, mais conhecido como o restaurante do Momo ou de dona Lucia. Na região, o restaurante tem sua peculiaridade: há nove anos leva a marca de Momo, ex-legionário francês, nascido em Lyon e que fala português com sotaque. Comunicativo, revela que aportou anos atrás no Brasil e se deixou fisgar pelos encantos do lugar, e também por dona Lucia, hoje sua companheira de casa e fo-gão. Sempre de avental e pano na cabeça, é dela a receita da sobremesa caseira mais reputada, a cocada de coco verde, preparada na hora e cuja textura "puxa-puxa" é uma tentação. "Eu misturo o coco com ingredientes variados, como maracujá," revela a cozinheira. Já o camarão ao curry, preparado com casca em panela de barro, leva a assinatura do Momo. De uma leveza surpreendente, não deixa a desejar no sabor ou na textura. Quase tudo que vem à mesa é da região. Como o camarão e o peixe fresco servi- do em filés na manteiga clarificada. Arroz de açafrão, feijão, farofa também compõem as refeições. Não há cardápio, mas isso não tem a menor importância. Pa- ga-se R$ 25 por pessoa, com direito a repeteco.
PARAÍSO TROPICAL
ONDE rua Santo Antonio, 31, Senador Georgino Avelino (RN)
COMO RESERVAR tel. (84) 3248-0090

RESTAURANTE DO GUIDO (BA)
Desde as primeiras horas da manhã, emoldurado por um coqueiral sem fim na praia da Cueira, o pescador Guido está atarefado, com a mão na massa --ou melhor, nas suas lagostas, que ele mesmo foi caçar nas águas mansas de Boipeba, ilha de difícil acesso ao sul de Salvador (BA). Em seguida, começa a atiçar o fogo a lenha disposto na areia, debaixo de um toldo.
E daí, continua o ritual. Depois de terem suas cascas "escaldadas" na chapa de uma frigideira enegrecida pelo uso, seu Guido pega uma faca afiada e racha uma por uma ao meio. Em seguida, grelha os crustáceos no azeite em questão de um ou dois minutos.
O processo é rápido e certeiro, e as bichinhas são servidas em sua mesa em porções generosas (R$ 90, para duas pessoas). A textura faz com que elas desmanchem na boca. Acompanha uma farofa leve, e uma boa pimenta. Inevitável pedir um bis...
Seu Guido, sempre sorridente com o ofício que ele pratica há trinta anos, desde quando habita aquela ilha. é uma figura para lá de carismática. Ele conta ter conseguido amealhar uma graninha suficiente para comprar casas para cada um de seus três filhos. "São graças às lagostas", garante, enquanto acena para um grupo de pessoas que desembarcou de um superbarco. "Tem gente que sai de longe só pra vir comer aqui", orgulha-se.
Ele também ostenta, todo prosa, reportagens em que mencionam seu nome e seu restaurante.
E fica ainda mais animado quando alguém pede para ele posar ou para ser fotografado ao seu lado.
RESTAURANTE DO GUIDO
ONDE praia da Cueira, Boipeba (BA)
COMO RESERVAR o restaurante não tem telefone e não faz reserva; é só chegar e sentar

CANTO DOS LENÇÓIS (MA)
Até seis anos atrás, dona Magnólia trabalhava no restaurante da cunhada. Até que cansou de não ser reconhecida pelas receitas que trazia na bagagem, como a de frutos do mar grelhados com urucum. Com o marido pescador, seu Antonio, abriu o Canto dos Lençóis, no minúsculo vilarejo de Atins, no Maranhão.Lá não chegou sequer o asfalto. Na choupana, que só tem luz graças a um gerador, o casal atende até 25 pessoas de cada vez. "A gente instalou umas redes nos fundos, que é pra quando tem mais freguês. Um grupo fica descansando enquanto o outro come," equaciona o maranhense, que, com a ajuda de suas duas filhas, comanda a cozinha, baseada nos ensinamentos da mãe e da avó, mentoras das receitas. Quanto ao restante dos ingredientes utilizados na cozinha, dona Magnólia mantém segredo. O carro-chefe da casa são os camarões grelhados com casca, acompanhados de farinha d´água e pirão. Além disso, o arroz e feijão acabam sempre aparecendo na mesa. A porção sai por R$ 25.
CANTO DOS LENÇÓIS
ONDE rua do Campo, Atins (MA)
COMO RESERVAR tel. (98) 8881-3138

RESTAURANTE PRETA (BA)
Não tem nem jeitinho baiano: nesta casinha-restaurante só dá mesmo para chegar de barco. É por isso que não dá para acreditar que em uma ilha onde nem rua tem é possível comer tão bem! O ambiente é convidativo e você se sente em casa. Pede licença e vai entrando, e se instala confortavelmente numa das cadeiras espalhadas pela grama. E vai recostando nas almofadas coloridas, ao ar livre,e fica olhando para o mar. Ou sobe dois degraus até a varanda coberta. Você vai degustar receitas saborosas, criações gastronômicas do chef Aurélio Agazi. No menu, harumakis de siri com geleia de tamarindo (R$35) e bruschetas de ostras defumadas (R$ 35). Para finalizar, por que não terminar com uma massagem? Por R$ 50, este programa pode se tornar ainda mais divertido.
RESTAURANTE PRETA
ONDE praia de Botelho, s/n°, ilha de Maré, Salvador (BA)
COMO RESERVAR (71) 9326-7467; restaurantepreta@hotmail.com


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