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Histórico hotel de Paris fecha para reforma de 3 anos

Lutetia, no bairro de Saint-Germain-des-Prés, abrigou nazistas e sobreviventes de campos de concentração

Antes da guerra, local na 'rive gauche' foi ponto de encontro de escritores como James Joyce e Saint-Exupéry

DA AFP

O Lutetia, emblemático hotel parisiense que abrigou os serviços de inteligência nazistas durante a ocupação (1940-44) e, na sequência, os deportados sobreviventes dos campos de concentração, fechou as portas na última segunda-feira para reformas.

As obras de restauração do edifício em estilo art déco deverão durar três anos. O objetivo é que o hotel conserve seu lugar de honra e status em um mercado cada vez mais competitivo.

O imóvel de sete andares foi construído em 1910, no bairro de Saint-Germain-des-Prés, na "rive gauche" (margem esquerda) do rio Sena. A região concentra as mais importantes editoras parisienses --por isso, o hotel se tornou ponto de encontro do mundo literário.

O fechamento do Lutetia se deu em meio à polêmica, posto que os empregados do local --211 ao todo-- contestaram o plano de seguros que foi proposto pela direção.

Em 2010, ele foi comprado por um grupo israelense, o Alrov, que decidiu seguir o exemplo de outros hotéis da capital francesa, como o Crillon, o Ritz e o Plaza Athenée --os três empreenderam grandes reformas recentemente para poder competir com grandes redes asiáticas, que abriram hotéis de luxo em Paris.

Depois das obras, com projeto do arquiteto francês Jean-Michel Wilmotte, o Lutetia vai fazer parte da chamada "coleção" The Set, rede que hoje administra os hotéis Conservatorium, em Amsterdã, e Café Royal, em Londres.

Um leilão será feito no mês que vem, nos salões do hotel, com 3.000 peças de mobiliário, uma centena de obras de arte e 8.000 garrafas de vinho e outras bebidas alcoólicas; todas as peças ficarão expostas entre 15 e 18 de maio.

"O Lutetia foi, desde o começo do século 20, um farol da rive gauche' e um lugar de memória por excelên- cia para os franceses", disse o escritor Pierre Assouline, que dedicou um romance ao hotel, intitulado, não por acaso, "Lutetia" (2005) --nome romano de Paris.

O serviço de contraespionagem do exército alemão, o Abwehr, fez do prédio seu quartel-general desde a ocupação da cidade, em junho de 1940. "E foi, sobretudo, o lugar ao qual regressaram os deportados franceses", lembra o autor, entre junho e setembro de 1945.

Uma placa colocada na fachada do hotel recorda, precisamente, que ele foi convertido em centro de acolhimento para os prisioneiros recém-liberados dos campos de concentração nazistas.

"A princípio, cada um dispunha de 48 horas de alojamento, mas, às vezes, ficavam mais tempo", recordou em 2004 uma voluntária do centro de acolhimento, Madeleine Thibault, no jornal da Associação dos Deportados. "Enquanto ficavam no Lutetia, estavam juntos, definitivamente em um lugar em que se sentiam acolhidos."

Segundo Pierre Assouline, pessoas que ficaram marcadas pela guerra não ficam indiferentes ao hotel.

"Conheço gente que desvia seu caminho para não passar em frente ao hotel. E outros que comemoram sua volta da deportação no Lutetia, porque esse foi o lugar de seu retorno à vida", conta.

HOTEL DE ESCRITORES

Antes da Segunda Guerra Mundial, o Lutetia era um hotel de escritores, já que na época era o único de luxo na margem esquerda do Sena.

Nomes como James Joyce, Antoine de Saint-Exupéry e Roger Martin du Gard se hospedaram ali. "André Gide o fazia quando precisava ter paz", disse Assouline.

"Depois da guerra, foi diferente, porque escritores contavam com menos meios econômicos para se hospedar em um grande hotel, mas ele segue sendo literário por excelência, porque o bar do Lutetia nunca deixou de ser, até o último sábado à noite, um lugar de escritores e editores."

Até o seu fechamento, o Lutetia continuou pautando a pequena e a grande história. Segundo o hotel, o general Charles de Gaulle, presidente da França (1959-69), passou em uma de suas suítes a noite de núpcias, em 1921.

Em novembro, um casal de idosos se suicidou após dormir ali sua última noite. Segundo a polícia, os dois se asfixiaram com sacolas de plástico estendidos sobre a cama; morreram de mãos dadas.

De acordo com informações do jornal "Le Monde", Georgette e Bernard Cazes "puseram serenamente fim a seus dias, felizes de haver compartilhado juntos, perto de seus filhos, a vida que quiseram antes de sofrer com as doenças da velhice".


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