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Turismo

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Sequência de cinema

Embora muitos turistas cheguem aos fiordes da Noruega de navios de cruzeiro, o melhor jeito de abordá-los é aproximar-se aos poucos, de trem

MARCELO LEITE DO ENVIADO À NORUEGA

Muitos turistas chegam aos fiordes da Noruega a bordo de navios de cruzeiro, como faziam os primeiros turistas alemães ainda no século 19. Navegar por suas águas tranquilas, entre escarpas abruptas, é uma experiência ímpar, mas não necessariamente o ângulo mais favorável para abordá-los.

O melhor ponto de vista para deslumbrar-se com um fiorde é do alto, aproximando-se deles aos poucos, para saborear sua grandiosidade. Com esse objetivo, em especial para quem chega de avião à capital Oslo, recomenda-se optar por outro meio de transporte: o trem.

Foi o que fiz em meados de maio, na companhia de um grupo de jornalistas brasileiros, pela estrada de ferro que toma o rumo da cidade de Bergen. O percurso foi eleito pelo guia "Lonely Planet" em 2012 como a segunda melhor viagem de trem na Europa (a primeira, Rauma, também fica na Noruega).

A passagem normal Oslo-Bergen custa cerca de € 100 (R$ 300), e são oferecidos pelo menos três horários por dia em cada sentido. Há várias combinações tarifárias possíveis, com paradas para pernoites na região dos fiordes. O viajante também pode combinar o bilhete ferroviário com trechos em ônibus ou barco (mais informações em fjordtours.com).

DE TREM E DE BARCO

Deixando o nível do mar, a linha para Bergen parte no rumo oeste através do planalto Hardanger (Hardangervidda, em norueguês), sempre subindo, até uma altitude de 1.200 m. Sugestão: reserve lugares do lado esquerdo do trem, que oferece vistas mais acachapantes.

As composições têm tomadas de eletricidade para carregar o celular, acima dos bancos, e wi-fi (pago à par- te e um pouco lento). A lanchonete é bem razoável. Há um vagão para famílias, com uma espécie de playground todo estofado em plástico cor de laranja.

Em plena primavera, a sequência de típicos celeiros de madeira vermelha, lagos espelhados de azul e montanhas cobertas de verde cede lugar para o branco dos campos de neve. No inverno, as nevascas são poderosas, e manter a linha aberta o ano inteiro é um desafio técnico que a Noruega enfrenta há mais de um século (a ferrovia foi inaugurada em 1909).

Depois de passar por Finse, a estação mais alta (1.222 m, 2°C), a ferrovia desce três centenas de metros para Myrdal (866 m). A parte mais espetacular da jornada ainda vai começar, com a baldeação para a linha de Flam (ou Flamsbana; pronuncia-se algo como "flómsbana").

É uma das ferrovias de montanha mais íngremes do mundo, que segue de Myrdal para Flam à taxa de 1 m para cada 18 m percorridos.

São 20 túneis, alguns através da rocha e outros simples coberturas de madeira para proteger a composição das avalanches de neve e de pedra. Aqui não há lado preferível no vagão. Quase ninguém fica sentado durante uma hora de percurso. Os turistas zanzam de uma janela à outra, no afã de tirar fotos das paisagens de cortar o fôlego: vales profundos, rios e cachoeiras de degelo, fazendas que parecem maquetes.

Após apenas 20 km chegamos a Flam, estação na ponta do fiorde Aurland, um dos dois braços finais em que se divide o fiorde Sogne (que tem 204 km de extensão e alcança profundidade de 1.308 m). O outro é o fiorde Naeroy, consagrado pela Unesco.

COM OU SEM EMOÇÃO?

Contornamos o "V" dos dois braços, até Gudvangen, num bote de borracha com bancos. Um "safári" que custa € 55 (R$ 165) e obriga o turista a se enfiar, com roupa e tudo, em trajes especiais para sobrevivência nas águas geladas. Não sem algum exagero, no nome e na precaução, pois o percurso é feito em total segurança e sem "emoção", como diriam bugueiros de Natal ou Fortaleza.

Porém, é impossível não se emocionar encarando o fiorde Naeroy desde a sua superfície plácida. Não tem igual a combinação majestosa do azul da água (e do céu nela refletido) com o verde da floresta e o marrom acinzentado das rochas.

Não foi a primeira vez em que atravessei um fiorde, mas me vi mais uma vez assaltado pela estranheza de cachoeiras despencando diretamente no mar.

Há algo de contraditório nessa paisagem, ao menos para um brasileiro. São dezenas, centenas de quedas --algumas simples fios d'água, outras gigantes que se projetam no abismo.

O ônibus que esperava em Gudvangen nos conduz para a surpresa seguinte, tão sensacional quanto a anterior: 15 minutos de helicóptero da empresa Helilift (€ 1.300, por hora; R$ 3.900), por cima de uma geleira e em meio a nesgas de sol entre nuvens, até os jardins impecáveis do hotel Ullensvang, em Lofthus, na beira do não menos fotogênico fiorde Hardanger.

Um dia para não esquecer.


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