Folha de S.Paulo

Retrovisor

Presente de Natal

Todo ano, no Natal, a atriz e professora de francês Julia Refalo, 27, se presenteia com algo que deseja muito. Ano passado, ficou entre uma viagem ao exterior e um carro. Mas quando viu um Fusca 1981 à venda, as dúvidas acabaram.

É o seu primeiro carro. Antigamente, o Fusca era o modelo certo para quem estava começando a dirigir, por ser pequeno e barato. Hoje, existem opções mais seguras, confortáveis, eficientes e rápidas, mas dificilmente com o mesmo charme.

Escolher dirigir um clássico no dia a dia revela valores pessoais. É uma declaração para a sociedade, similar à maneira como você se veste.

É engraçado perceber que as mulheres, mesmo tão preocupadas com a aparência, escondem toda sua beleza dentro de um carro convencional lacrado com película protetora. Podem dizer que a "culpa" disso está na dificuldade de revenda, na manutenção ou, então, na segurança de camuflar-se na multidão.

Para mim, o que ocorre é falta de criatividade e de atitude. Ou vocês, mulheres, não sabem que ficam irresistíveis dentro de um carro antigo?

Talvez por embaralhar a parte cognitiva do cérebro masculino, misturando a paixão pelos carros, alguma lembrança da infância e o amor pelas mulheres em uma única imagem. Só Freud explica.

A overdose de sensações geralmente é interrompida por uma outra mulher em um carro atrás, invejosa, buzinando para a gente acordar desse transe.

Julia se diverte recebendo cantadas do tipo "você é linda, mas seu carro é ainda mais". Entre esses e, principalmente, outros elogios somente ao carro, o amor pelo Fusca só aumenta.

O carro ganhou até um nome carinhoso, "Getúlio". Depois de passear nele, sua amiga Manu apaixonou-se e, uma semana depois, comprou o "Horácio", um Fusquinha verde.

Nesse ano, o presente de Natal de Julia para ela mesma não será um tocador de MP3 ou o último smartphone, mas, sim, uma boa e velha vitrola.