Folha de S.Paulo

Retrovisor

Pra frente, Brasil

Chegou o bendito e maldito ano da Copa no Brasil. Para quem não gosta de futebol, não haverá muito para onde fugir. Talvez esse leitor se irrite com essa menção futebolística. Eu, que não sou um fanático, posso entender.

Mas gosto de ver no povo o raro orgulho de ser brasileiro. Esse espírito ufanista repete-se de quatro em quatro anos desde 1958, quando nosso país foi campeão da Copa pela primeira vez.

Em 1959, a Chevrolet criou a linha da picape 3100, mais conhecida como Chevrolet Brasil, que trazia também a cabine dupla Alvorada, o furgão fechado Corisco e a perua Amazona.

Os nomes deviam-se ao fato de serem os primeiros carros projetados especialmente para o país pela Chevrolet. O logotipo era o mapa nacional.

Jairo Herrera, 32, dono de uma confecção, apaixonou-se há dois anos pela Chevrolet Amazona enquanto procurava uma Kombi antiga para comprar. No "garimpo" em busca da VW, ele conheceu um colecionador em Barra Bonita (SP).

Foi lá onde Herrera viu pela primeira vez um Corisco em perfeito estado.

Infelizmente, o furgão estava à venda por um preço muito maior do que poderia pagar, mas foi o suficiente para interromper as buscas pela Kombi e começar a mirar uma Amazona.

Acabou achando uma na Freguesia do Ó. Apesar de bem íntegra, não está perfeita. Aos poucos, passa por um processo de restauração total.

"Gorda", como ele a chama carinhosamente, tem status de membro da família. Herrera exibe sua raridade nos passeios e encontros de antigos. Mesmo sendo prima da americana Suburban, é uma perua que só existe no Brasil.

No último Natal, ele convocou 20 outros amigos, que se vestiram de Papai Noel e saíram em seus carros antigos pelas ruas de São Paulo distribuindo doces para a criançada.

Buzinando por todo o caminho, sua Chevrolet Amazona fazia-me lembrar o que os brasileiros adoram fazer quando seu time é campeão: festejar.