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Peças infantis genéricas lotam teatros mesmo com atuações e cenários ruins

Em um domingo no Teatro Juca Chaves, os 300 lugares foram ocupados por um público animado para ver "Uma Aventura Congelante", peça baseada na animação "Frozen", mas sem ligação com a Disney, criadora do título.

Com figurinos simples, os atores repetem os diálogos do filme sem medo, em meio a gelo seco e a flocos de neve falsa, que demoram a cair.

Espetáculos como esse tentam embarcar no sucesso de personagens queridos. "São oportunistas", observa Dib Carneiro Neto, jornalista especializado em teatro infantil. "Os pais acham que fazem uma maravilha ao levarem os filhos para assistir a peças assim. E ainda compram suvenires."

Mônica Rodrigues da Costa, crítica de teatro infantil da Folha, concorda. "Essas peças costumam ter cenários ruins, atuações medianas e efeitos visuais pobres", analisa. "Elas poderiam dar um passo além em relação às histórias originais, mas apostam em mais do mesmo."

Por vezes, a continuidade da história é prejudicada. Em "Uma Aventura Congelante", faltavam pedaços –quem nunca viu "Frozen" saiu do teatro sem entender por que Elsa e Anna não podiam brincar juntas. Procurada, a Disney informou que "não gostaria de participar" desta reportagem.

O sucesso de público não é exclusivo de derivados do estúdio americano. Em uma tarde de sábado, a reportagem da sãopaulo foi assistir à "Dudinha e a Galinha Pintadinha 3", no Teatro Bibi Ferreira, que estava repleto de crianças e bebês. O ingresso custa R$ 70, mas promoções em sites de compras coletivas chegam a vendê-lo por R$ 19,90. Durante a peça, os atores ressaltam que é permitido fotografar e pedem para que a plateia poste as imagens nas redes sociais.

A montagem não tem autorização da Bromélia Filmes, titular dos direitos autorais da Galinha Pintadinha. A briga é antiga e corre na Justiça. "Conseguimos tirar essa peça de Campinas", afirma o publicitário Marcos Luporini, criador da Galinha Pintadinha. Segundo ele, a marca foi prejudicada. "Já recebemos reclamações sobre a peça deles, como se fosse de nossa autoria", diz.

Luporini conta que chegou a postar mensagens em sua página do Facebook para avisar que "Dudinha" não é autorizada. A reação dos internautas, no entanto, foi surpreendente. "Fomos xingados. As pessoas diziam: ' levo meu filho aonde eu quiser' e 'meu filho não está nem aí, ele não vai perceber a diferença'."

O desenho "A Galinha Pintadinha" mostra o animal cantando músicas populares, como "Boi da Cara Preta". A peça tem as mesmas canções, nas vozes de Mariana e de Dudinha, personagem original de Maciel Fama, produtor da montagem. Apesar dos figurinos e do cenário simples, o público do Bibi Ferreira saiu do teatro satisfeito. "Gostei muito das músicas e das brincadeiras", disse Gabriel Noronha, 5. "Também gostei da Mariana, porque ela é bonita."

Fama defende que o conteúdo é de domínio público. "Minha avó cantava essas músicas para mim", afirma. "Não existe galinha oficial. A original é a que o público escolheu, ou seja, a minha".

Ele tem duas equipes que viajam pelo Brasil para encenar a peça, cujos personagens foram registrados na Biblioteca Nacional. Segundo ele, o espetáculo (que estreou no fim de 2011) já foi visto por mais de 150 mil pessoas.

O produtor de "Dudinha" afirma que o processo ainda corre, enquanto Luporini diz que a peça deveria ter sido interrompida em São Paulo."Geralmente, esses processos têm natureza civil. Porém, um desacato à ordem judicial o torna criminal", afirma o advogado Daniel Campello Queiroz, especializado em direitos autorais.

Segundo ele, a justificativa de "prestar uma homenagem" –argumento usado por algumas montagens– não é valida. "Tudo depende do contexto. Contos de fadas, por exemplo, são domínio público. Com o nome dos personagens, depende: João e Maria não são protegidos, mas Mickey é", esclarece. Ele ainda explica que, para classificar uma produção como cópia, é necessário identificar dois aspectos: precisa ser igual a ponto de o público se confundir e haver prova de que o autor da segunda obra conhecia a original.

Além dos titulares dos diretos autorais, o público pode recorrer. Segundo o Procon, os espectadores que acreditaram que as produções eram originais podem registrar queixa e exigir o ressarcimento do ingresso.

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