A invasão de um terreno vizinho à área conhecida como Parque dos Búfalos, às margens da represa Billings (zona sul) causou, além do corte de dezenas de árvores, o surgimento de lotes clandestinos.
Segundo moradores da região, mesmo com a intervenção da Polícia Ambiental, que mantém uma viatura no local, os invasores estavam oferecendo partes do terreno de 48 mil m² por até R$ 20 mil. Algumas pessoas já trocaram carros pelos lotes, outros chamaram a família para demarcar dez de uma vez.
O Parque dos Búfalos é alvo de uma disputa que envolve prefeitura, ativistas e moradores. Na área de 830 mil m², de propriedade particular, está prevista a construção de um residencial do Minha Casa Minha Vida para 3.860 famílias.
Em dezembro, moradores do bairro entraram com ação popular para impedir o avanço do projeto. Eles querem que a área se torne um parque, função que exerce desde o final dos anos 1990. No começo do ano, o juiz Kenichi Koyama concedeu uma liminar que impedia o começo das obras. Ela foi derrubada em abril.
MOTIVOS
A invasão do terreno vizinho é explicada de formas diferentes pelos envolvidos na polêmica. Para o ativista do movimento do Parque dos Búfalos, Aurélio Prates, ela não foi organizada por grupos de moradia, porque permaneceu "fantasma".
Como a Folha mostrou na semana passada, não havia barracos nem sem-teto dormindo lá, apenas faixas que demarcavam lotes. Dois homens que vigiavam o local disseram na ocasião que ele serviria para abrigar pessoas da região.
"A gente repudia isso. Até instituições estão sendo coniventes com a situação. Querem pressionar a opinião pública pela construção do conjunto habitacional", afirma Prates.
Uma das líderes do movimento por moradia do Jardim Apurá, que não quis se identificar, diz que o grupo não está por trás da ação.
Segundo ela, as famílias sem-teto ou que moravam em áreas de risco estão na ocupação Antônio Conselheiro, em um terreno próximo ao Shopping Interlagos (zona sul). A área havia sido indicada pelos ativistas do Parque dos Búfalos como alternativa para o projeto do Minha Casa Minha Vida.
"Não estava lá e nem vi. Não é coisa dos moradores, é coisa de vândalos. Estamos todos aqui [em Interlagos] com mil famílias do bairro. Eles estão pegando terreno para vender."
Já para Régis Campos, dono da construtora Emccamp, responsável pela construção do projeto habitacional, a invasão ocorreu após tentativa de ocupar a área do Parque dos Búfalos.
"Tentaram no nosso terreno, mandaram duas viaturas da polícia e eles foram para o do vizinho. Se não fizermos a obra, vai entrar 100 mil pessoas. Se eu tirar o vigilante de lá e não fizer obra, ninguém segura. Virou um favelão a céu aberto."