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Recriada, armadura da Antiguidade se mostra funcional em 11 horas de simulações de combate

Por sua aparência pesadona, havia dúvidas sobre a viabilidade da panóplia de Dendra num combate real

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São Carlos (SP)

Uma das mais famosas armaduras do mundo antigo, feita na Grécia da Idade do Bronze, não era só um objeto de prestígio para os guerreiros de 3.500 anos atrás. Experimentos e simulações indicam que sua estrutura funcionava bastante bem em combate, inclusive durante confrontos como os descritos nos relatos sobre a guerra de Troia.

As conclusões vêm de um estudo publicado na revista científica PLoS ONE por uma equipe interdisciplinar de pesquisadores. O grupo, com pesquisadores da própria Grécia, do Reino Unido e de Portugal, recrutou 13 fuzileiros navais das Forças Armadas gregas para testar seu desempenho usando os apetrechos da Antiguidade, medindo suas reações fisiológicas o tempo todo.

Pessoa usando réplica de armadura e segurando uma espada - Andreas Flouris e Marija Marković

Os soldados, com idade média de 29 anos, vestiram uma réplica da chamada panóplia de Dendra, descoberta perto da antiga cidade de Micenas (sul da Grécia) nos anos 1960. Formada por placas sobrepostas de bronze, a panóplia (armadura completa) é uma das poucas remanescentes desse período.

No entanto, por causa da aparência pesadona —mais para Homem de Ferro do que para cavaleiro do Zodíaco, digamos— havia dúvidas sobre a viabilidade da panóplia num combate real. Poderia ser algo usado apenas em cerimônias públicas ou como oferenda funerária, acompanhando o guerreiro em sua jornada para o Além.

Para tentar elucidar as dúvidas a respeito, a equipe liderada por Andreas Flouris, do Departamento de Ciência do Exercício da Universidade da Tessália, obteve uma réplica bastante fiel do equipamento, produzida a partir de uma liga de cobre (95% da composição) e zinco (5%) muito parecida com o bronze de Dendra.

A panóplia moderna pesa cerca de 22 kg, até um pouco mais do que a original, e foi fabricada sob supervisão da Diana Wardle, da Universidade de Birmingham, que também assina o estudo. Uma resina sintética foi usada para fabricar o capacete, reproduzindo as versões da Idade do Bronze que usavam presas de javali em sua montagem. Pedaços de feltro foram empregados para acolchoar os componentes, presos entre si com tiras de couro. Por fim, os fuzileiros navais receberam uma espada do tipo cruciforme, comum no período micênico (como é conhecida essa época na cronologia grega).

Para saber quais seriam os tipos de atividade física comuns para guerreiros da época durante uma campanha militar, outros membros da equipe fizeram um pente-fino nos versos da Ilíada, o maior poema épico grego, que descreve uma pequena parte da guerra de Troia.

As detalhadas cenas de batalha do poema atribuído a Homero —que falam do transporte dos guerreiros em carros de guerra, abordam o uso de lanças, espadas, arcos e até pedras como armas, as refeições antes e depois do combate etc.— foram usadas para estimar como seria um dia típico de um soldado grego da Idade do Bronze.

A ideia tem um lado polêmico, porque Homero compôs a Ilíada séculos depois desse período, embora use tradições orais sobre ele. Ainda assim, seria a melhor fonte do ponto de vista militar, já que não há textos contemporâneos —na época, a escrita não era usada para fins narrativos na Grécia.

Levando tudo isso em conta, os soldados modernos passaram por uma bateria de 11 horas de simulações de combate, passando por vários dos estágios de uma batalha citados pelo poema antigo. As medições fisiológicas mostraram que, a despeito do peso da armadura, seu uso contínuo era perfeitamente viável —apesar de algumas dores e inflamações, nenhum soldado desabou de exaustão no fim do dia, por exemplo.

Os pesquisadores esperam usar os dados para entender melhor as estratégias militares dos antigos reinos gregos nos séculos finais da Idade do Bronze.

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