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Como baleia de 53 anos sobrevive em meio a ameaças é um mistério

Jubarte resiste enquanto outros animais enfrentam dificuldades com mudanças no clima, pesca e navios

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Emily Anthes
The New York Times

A cauda de um jubarte é tão única quanto uma impressão digital. Os lobos, ou nadadeiras, na extremidade da cauda têm bordas recortadas que variam de baleia para baleia; as partes inferiores apresentam padrões distintos em preto e branco que marcam um indivíduo para a vida toda.

Quando o pesquisador de mamíferos marinhos Adam A. Pack, da Universidade do Havaí em Hilo, estava fotografando baleias no Frederick Sound, uma passagem entre arquipélagos no Alasca, em julho deste ano, ele reconheceu instantaneamente os lobos de um velho amigo.

Baleia apelidada de Old Timer é fotografada em passagem entre arquipélagos no Alasca em julho deste ano - NYT

A cauda —principalmente preta, com uma lavagem de manchas brancas perto da borda— pertence a uma baleia apelidada de Old Timer. Avistado pela primeira vez em 1972, o macho tem agora pelo menos 53 anos, tornando-o "a baleia jubarte mais velha conhecida no mundo", segundo Pack, que também é cofundador e presidente do Instituto Dolphin.

As populações de jubarte, no passado severamente reduzidas pela caça comercial, recuperaram-se nas últimas décadas. Mas os animais ainda estão ameaçados por colisões com navios, enredamentos em equipamentos de pesca e mudanças climáticas.

Pack estava preocupado com seu velho amigo. A última vez que ele tinha visto a baleia, em 2015, foi no meio de uma onda de calor recorde que durou anos. Dezenas de aves marinhas e mamíferos marinhos, incluindo jubartes, morreram.

Mas, depois de nove anos, ele viu com seus próprios olhos que Old Timer tinha sobrevivido.

"Foi reconfortante, porque percebi que não eram apenas as baleias mais velhas que estavam perecendo", disse Pack. "Algumas delas eram resilientes."

É possível que ele tenha vivido o suficiente para ser adaptável quando certos recursos alimentares são limitados

Adam A. Pack

pesquisador

Historicamente, o rastreio do paradeiro de baleias era feito de uma forma difícil: cientistas usando seus próprios olhos para comparar novas fotos de nadadeiras caudais com as antigas. Mas estudos futuros sobre Old Timer e outros jubartes de todas as idades devem ser acelerados em razão da inteligência artificial. E Pack espera que isso o ajude a aprender como e por que algumas baleias conseguem resistir a condições difíceis.

Múltiplas populações de jubarte habitam o Pacífico norte. Old Timer faz parte de uma população que passa os invernos se reproduzindo nas águas ao redor do Havaí e os verões no sudeste do Alasca, alimentando-se de peixes e krill. Esses animais têm sido objeto de um estudo científico em andamento, iniciado em 1976, quando um pesquisador de mamíferos marinhos, Louis Herman, começou a fotografar as baleias e suas nadadeiras distintas.

Herman realizou pesquisas anuais, acumulando uma enorme coleção de fotos de caudas que permitiram aos cientistas acompanhar as baleias individuais ao longo de suas vidas. Essas fotos de caudas, que agora somam mais de 30 mil, forneceram novas informações sobre a vida das baleias, desde seus padrões de migração até seus comportamentos sociais.

"É um dos estudos científicos contínuos mais longos de jubartes no mundo", afirmou Pack, um dos ex-alunos e colegas de Herman e agora líder do projeto.

O estudo está entrando na era do aprendizado de máquina, com a ajuda da plataforma online Happywhale, que coleta fotos de caudas de baleias feitas por cientistas e outras pessoas em todo o mundo.

O banco de dados contém aproximadamente 1,1 milhão de imagens de mais de 100 mil jubartes, de acordo com Ted Cheeseman, um dos fundadores do Happywhale e candidato a doutorado na Universidade Southern Cross, na Austrália.

Algoritmos de correspondência de fotos alimentados por inteligência artificial ajudam a identificar automaticamente as baleias nas fotos enviadas, auxiliando cientistas em campo ou outras pessoas que precisam procurar avistamentos anteriores de um determinado animal.

"O Happywhale revolucionou nosso campo e tornou possíveis colaborações em larga escala", disse Pack.

No início deste ano, Cheeseman, Pack e dezenas de outros pesquisadores usaram a ferramenta de reconhecimento de imagem do Happywhale para estimar a abundância de jubartes no Pacífico norte de 2002 a 2021. Inicialmente, a população cresceu rapidamente, chegando a cerca de 33,5 mil baleias em 2012.

Mas, depois, caiu drasticamente. Essa queda populacional coincidiu com a grave onda de calor marinho, quando Pack avistou pela última vez Old Timer. Durou de 2014 a 2016 e reduziu drasticamente o suprimento de peixes e krill.

"Há muito mais que queremos aprender sobre o evento, mas é bastante claro: águas mais quentes significam que o alimento está menos disponível no geral, e o que está disponível está mais disperso e mais profundo", disse Cheeseman em um email.

A população de baleias jubarte do Havaí foi especialmente afetada, caindo 34% de 2013 a 2021. Embora tenha havido algumas avistagens do Old Timer relatadas após 2015, Pack estava animado para finalmente pôr os olhos na baleia pessoalmente. Essa animação, porém, logo deu lugar à curiosidade: por que seu velho amigo sobreviveu, quando tantos outros pereceram?

Agora, Pack espera mergulhar mais fundo, com a ajuda do Happywhale. Ele planeja investigar como os jubartes sobreviveram aos anos difíceis e se existem padrões discerníveis. A idade de Old Timer poderia ter sido uma vantagem?

"É possível que ele tenha vivido o suficiente para ser adaptável quando certos recursos alimentares são limitados", afirmou Pack.

A ideia permanece especulativa e ainda não está claro se Old Timer foi a exceção ou a regra. "Quantas baleias como ele foram resilientes a essa devastação dos recursos marinhos?", questiona o pesquisador.

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