Descrição de chapéu The New York Times

Por que baleias e golfinhos passam pela menopausa

Estudo sugere que etapa oferece uma vantagem evolutiva aos animais

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Carl Zimmer
The New York Times

A menopausa é muito familiar para as mulheres, mas em outras espécies é algo raro. Pesquisadores encontraram evidências claras de que fêmeas de baleias e de golfinhos também passam por essa etapa.

Há muito tempo, cientistas debatem por que a menopausa evoluiu. Talvez tenha proporcionado uma vantagem evolutiva para as fêmeas, ou talvez tenha sido um efeito colateral de alguma outra característica benéfica de suas vidas.

Em um novo estudo sobre cinco espécies de baleias e de golfinhos, argumenta-se que a menopausa ofereceu uma vantagem evolutiva a esses animais. Evitaria, por exemplo, que fêmeas mais velhas ficassem grávidas ao mesmo tempo que suas filhas, evitando conflitos de recursos que prejudicariam a prole de ambas.

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Orca nada perto da ilhas de San Juan, em Washington, nos Estados Unidos - Louise Johns/The New York Times

Samuel Ellis, biólogo da Universidade de Exeter que liderou o estudo, publicado na Nature, disse que as espécies estudadas podem ter menopausa pelas mesmas razões que os humanos.

Na grande maioria das espécies, as fêmeas continuam produzindo óvulos ao longo de suas vidas. Esse padrão faz sentido em termos de seleção natural. Quanto mais descendentes uma fêmea puder criar com sucesso ao longo de sua vida, mais cópias de seus genes são passadas para as gerações futuras. Mesmo fêmeas de vida longa geralmente se encaixam nesse padrão: elefantas, por exemplo, continuam férteis até os 60 anos.

Cinco espécies —orcas, falsas-orcas, belugas, baleias-piloto-de-aleta-curta e narvais— não se encaixam nesse padrão. As orcas fêmeas, por exemplo, geralmente se reproduzem até cerca de 40 anos, mas podem sobreviver até os 90 anos.

As orcas são relativamente fáceis de serem estudadas: muitas vezes nadam em águas costeiras e passam muito tempo na superfície. Mas as outras espécies em que há menopausa vivem longe da costa e ficam muito tempo mergulhando.

Em vez de perseguir baleias e golfinhos, Ellis e seus colegas tentaram extrair informações dos dados que biólogos marinhos já coletaram. Às vezes, grupos de baleias encalham em massa na costa, por exemplo. Ao examinarem os corpos dos animais, os biólogos marinhos fazem estimativas de idade e realizam autópsias nas fêmeas para ver se estão grávidas ou ainda produzindo ovos.

Os pesquisadores coletaram dados para as cinco espécies que têm menopausa e de outras 27 que não passam por isso, como golfinhos e cachalotes. Usando equações estatísticas, estimaram a expectativa de vida média dos animais, o número de descendentes que produzem e por quanto tempo permanecem férteis.

Nas espécies sem ocorrência de menopausa, as fêmeas seguem a mesma tendência: baleias maiores tendem a viver mais tempo.

Um padrão diferente surgiu entre as cinco espécies que passaram pela menopausa. As fêmeas permaneciam férteis pelo tempo que você poderia prever para um indivíduo do tamanho delas. Mas então viviam, em média, 40 anos além da expectativa de vida prevista.

Essa descoberta sugere que a menopausa não evoluiu graças a mutações que encurtaram os anos reprodutivos das cinco espécies. Em vez disso, a seleção natural deve ter favorecido mutações que adicionaram mais anos à vida dos animais depois que sua reprodução parou.

Então, que tipo de vantagem evolutiva poderia ter surgido desse comportamento reprodutivo?

Uma possibilidade é que fêmeas mais velhas não dão à luz ao mesmo tempo que sua própria prole está dando à luz. Dessa forma, elas não entram em conflito. A longo prazo, sugerem os autores do estudo, evitar esse conflito permitiria que as baleias que passam pela menopausa transmitissem mais de seus genes.

Em vez de entrar em conflito com sua prole, as fêmeas mais velhas poderiam fornecer ajuda. Em estudos anteriores sobre orcas, descobriu-se que as fêmeas mais velhas lideram suas manadas em longas jornadas. Em estudos com humanos, os pesquisadores também verificaram que as avós podem fornecer alimentos extras que aumentam as chances de sobrevivência de seus netos.

O fato de apenas cinco espécies de baleias e golfinhos serem conhecidas por terem desenvolvido a menopausa sugere que essa vantagem só pode ser obtida sob certas circunstâncias. Ellis levanta a hipótese de que uma espécie pode precisar que fêmeas permaneçam em grupo por um longo tempo e estejam intimamente relacionadas aos membros mais jovens do grupo.

Rebecca Sear, demógrafa da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres que não participou na pesquisa, disse que Ellis e seus colegas fizeram uso engenhoso dos dados que puderam encontrar. "Acho impressionante o quanto sabemos sobre a demografia das baleias, considerando que elas vivem no oceano."

Ela disse que a hipótese deles é plausível, mas também apontou que eles podem ter analisado poucas baleias. "Acho que precisamos ser muito cautelosos com esse tipo de trabalho", disse Sear. "É realmente interessante e informativo, mas não fornece evidências conclusivas sobre por que a menopausa evoluiu."

Erramos: o texto foi alterado

O estudo analisou cinco espécies de baleias e de golfinhos, e não só de baleias, como publicado incorretamente em versão anterior deste texto. 
 

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