Siga a folha

Paraense, jornalista e escritora. É autora de "Tragédia em Mariana - A História do Maior Desastre Ambiental do Brasil". Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense.

Mariana, seis anos de impunidade

Mariana é um encadeamento de violências contra a população pobre e contra o meio ambiente

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Uma semana depois do rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, Aluísio Alves voltou ao povoado de Bento Rodrigues, ainda submerso pela lama de rejeito mineral.

A área estava interditada, mas Aluísio não desistiria de entrar no que sobrara da casa de sua família. Tinha uma missão: resgatar um álbum de fotografias.

"Quero poder contar minha história", suplicou Aluísio a um bombeiro. Ele acabou entrando e encontrou o álbum, no alto de um armário. O gesto de Aluísio é uma afirmação do direito à memória. É recusa ao esquecimento. Conto esse episódio a propósito dos seis anos do desastre recém-completados. A lama matou 19 pessoas e soterrou três povoados. Envenenou o rio Doce, espalhou dor e devastação ao longo de 660 km. Atingiu 38 municípios dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo.

E o que fizeram a Samarco e suas controladoras, Vale e BHP? Em acordo com o governo federal e os dois governos estaduais, criaram, em 2016, uma fundação para tocar o processo de reparação, sem mediação da Justiça. Ou seja, o poder público simplesmente se omitiu diante do poder de duas das maiores corporações globais da mineração.

A fundação embute uma lógica perversa ao obrigar as vítimas a negociar com seus algozes. Não tinha como dar certo. O resultado é que, até hoje, as empresas que esburacam o subsolo para extrair a riqueza mineral não foram capazes de erguer três pequenos vilarejos. A maioria dos atingidos não recebeu suas indenizações e as demandas acabaram sendo judicializadas.

No processo criminal, a defesa dos réus achou os caminhos para anular a acusação de homicídio doloso.

O caso de Mariana é um encadeamento de violências contra a população pobre e contra o meio ambiente. Permitir que caia no esquecimento seria como esmagá-los uma segunda vez sob toneladas de descaso e impunidade.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas