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A derrota do Brasil na Copa deixa no ar uma série de perguntas sem resposta

Mal sabem os fiscais de arquibancada que sua opinião sobre torcida alheia tem menos que os torcedores sobre o jogo

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A derrota do Brasil na Copa deixa no ar uma série de perguntas sem resposta. Como é que o Brasil não conseguiu segurar o resultado por quatro minutos? Por que é que Tite botou um zagueiro e um adolescente pra bater os primeiros pênaltis? A dívida de Neymar deve ser desperdoada? Transferida pra Tite? Mas o mais importante: pra quem o brasileiro deve torcer agora?

A pergunta aparentemente trivial e sem importância divide a internet, provando que é, de fato, trivial e sem importância. No Twitter, abundam sommeliers de torcida. No presente momento, mil fiscais não remunerados se digladiam a respeito de qual seleção merece mais nossa torcida.

Cada um segue sua própria cartilha ideológica. Os decoloniais declararam torcida imediata pro Marrocos --mas logo foram tachados de fundamentalistas por aqueles que torciam pra Argentina, que por sua vez foram acusados de passar pano pra racista por aqueles que preferem torcer pra Croácia, que logo foram esculhambados por todos aqueles que consideram inadmissível torcer por um país europeu. E ninguém nem ousa declarar torcida pela França sabendo que será espinafrado por todo o resto. Afinal torcer pra um país europeu e colonialista que ainda por cima é o nosso maior carrasco em Copas equivale a torcer pro padre irlandês que invadiu a maratona, pra Gwyneth Paltrow, pro Alain Prost, pra todos os verdadeiros inimigos da pátria, aqueles que abateram, inclementes, nossa alegria em pleno voo.

Mal sabem os fiscais de arquibancada que sua opinião sobre a torcida alheia tem ainda menos efeito do que os torcedores têm sobre o jogo. A paixão futebolística não obedece a qualquer critério ético ou geopolítico. Ao contrário da adesão a um candidato, que revela uma visão de mundo do eleitor, a torcida por um time não diz nada sobre o torcedor. Como qualquer paixão, é ela quem te escolhe: caso contrário ninguém torceria pro Botafogo.

Gostar de um time não tem tanto a ver com você, nem com o time. Tem a ver com gostar de torcer: é mais sobre a arquibancada do que sobre o time. Por isso, tenho que confessar: fui contaminado pelo marroquismo. Não pelo futebol apresentado, mas pela festa nas ruas, e pela dança do jogador com sua mãe no gramado. Espero que ainda consiga uma autorização junto ao tribunal virtual que se dedica a emitir os alvarás de torcida.

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