Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Estados (des)Unidos
A tendência é que os estados se tornem cada vez menos unidos.
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Votos têm consequências duradouras. Donald Trump já se foi, mas, com as três indicações de juízes para a Suprema Corte que ele teve oportunidade de fazer, deixou uma sólida maioria conservadora no tribunal. E a corte decidiu na semana passada que vai reavaliar a questão do aborto.
Os magistrados vão julgar a constitucionalidade de uma lei do estado do Mississippi que praticamente bane abortos para fetos com mais de 15 semanas. A perspectiva é que a corte relativize ou mesmo reverta o célebre precedente Roe vs. Wade, de 1973, pelo qual se estabeleceu que o aborto é um direito constitucional da mulher.
Já sentindo o cheiro de mudança no ar, o governador do Texas sancionou dias depois um projeto de lei que bane a maior parte dos procedimentos para fetos com mais de seis semanas. Como a maioria das mulheres só descobre a gravidez com mais de seis semanas de gestação, a norma na prática inviabiliza o aborto a pedido (sem razões médicas).
O interessante é que, mesmo que a Suprema Corte pegue pesado e anule inteiramente Roe vs Wade, o aborto continuará sendo um direito para a maioria das americanas. Na maior parte dos estados, não há a menor chance de as legislaturas aprovarem leis restritivas.
As exceções se concentram em estados do sul e do meio-oeste. Eles são mais conservadores, mas é importante frisar que esse conservadorismo vem sendo multiplicado nos legislativos locais por anos e anos de gerrymandering (o redesenho de distritos eleitorais de forma a favorecer o partido no poder).
O resultado, no final das contas, deverá ser o aprofundamento da cisão ideológico-espiritual que cada vez mais caracteriza os EUA. As diferenças entre liberais e conservadores já não se darão apenas no modo de ver questões como aborto, eutanásia, drogas, armas etc., mas também na maneira de regulá-las e vivê-las. A tendência é que os estados se tornem cada vez menos unidos.
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