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Economista, mestre em filosofia pela USP.

Se você quer o impeachment de Bolsonaro, seja contra a violência nos protestos

Vandalismo é eticamente problemático e um desastre estratégico

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Os protestos de 3 de julho chamaram muita gente às ruas, mas ainda não alcançaram a dimensão necessária para impressionar a classe política e a opinião pública.

Além disso, foram palco de infelizes atos de violência: depredação de universidade, banco, ponto de ônibus; funcionários de segurança do metrô e policial feridos; e até mesmo agressão contra manifestantes de outros partidos.

As cenas de violência correm os grupos de WhatsApp e servem como propaganda bolsonarista. Mesmo assim, não falta quem defenda o uso da violência, ecoando os argumentos usados por black blocs desde os anos 2000. Como derrubar um governo com inclinações autoritárias sem a violência?

Na realidade, a violência não é só eticamente problemática. Ela é também um desastre estratégico. É o que mostram as pesquisadoras Erica Chenowith e Maria Stephan em “Why Civil Resistance Works” (2012).

Em um levantamento exaustivo de todos os movimentos para mudança de regime no mundo entre 1900 e 2006, as pesquisadoras constataram que movimentos não violentos tiveram mais que o dobro da taxa de sucesso que movimentos violentos (e mesmo contra os regimes mais repressivos).

Universidade Mackenzie, na rua da Consolação, em São Paulo, foi depredada durante manifestação pelo impeachment de Bolsonaro - Flávio Ferreira - 03.jul.21/Folhapress


A explicação é simples. Primeiro: há uma brutal desproporção entre a força dos manifestantes e as forças de segurança. Por mais radicais que sejam, um punhado de jovens radicais são insignificantes perto do poder de repressão do Estado. Não há nenhuma revolução a caminho.

O que determina o sucesso de um movimento popular nos dias de hoje, mais do que a força das armas, é seu poder de conquistar a opinião pública. Sua capacidade de mobilizar pessoas simpáticas à causa e persuadir aquelas que ainda não se posicionaram.

Quanto mais violento o protesto, mais ele afasta as pessoas das ruas —especialmente os mais vulneráveis fisicamente, como idosos, mulheres e pessoas com deficiência—, seja por medo ou por antipatia. Ao mesmo tempo, coloca a opinião pública contra os manifestantes e a favor da repressão.

Um mar de manifestantes pacíficos dá a segurança para ainda mais pessoas irem às ruas. E aumenta a simpatia pela causa. Se a polícia usar da violência contra manifestantes pacíficos, a opinião pública os favorece ainda mais.

Há até quem diga que os atos de vandalismo dos protestos tenham sido obra de policiais bolsonaristas infiltrados. Não faço ideia se a acusação é verdadeira, só ressalto a conclusão óbvia: o uso da violência é tão ruim para a causa antibolsonarista que suscita até mesmo a hipótese de sabotagem.

Em breve, conforme a vacina ganhe tração, se tornará mais seguro tomar as ruas. Será o momento de conquistar o coração do maior número de pessoas —de todos os partidos— para mostrar com clareza para a classe política que este governo já ultrapassou todos os limites.

No momento, para as legendas do centrão, é confortável ter um presidente fraco. O único jeito de mudar esse cálculo político é por meio da pressão popular. É momento de unir, não de dividir. Momento de mostrar que nenhum cidadão honesto, pacífico e solidário pode tolerar a incompetência, a má-fé, a corrupção e a podridão moral do governo Bolsonaro e seus aliados.

Se você quer que Bolsonaro pague pelos crimes que cometeu como presidente, começando já pela perda do mandato, coloque-se claramente contra atos de violência e depredação nos protestos pelo impeachment. E cobre dos organizadores passos concretos para impedir e afastar pretensos revolucionários que, num ato vaidoso e destrutivo, comprometem toda a causa. Quanto mais aliados, melhor.

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