Polícia prendeu cerca de 300 manifestantes em universidades de NY após desocupar prédio de Columbia

Tropa de choque fez operação para esvaziar campus; estudantes foram detidos sem oferecer resistência

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Natasha Madov
Nova York

A polícia da cidade de Nova York entrou na Universidade Columbia na noite desta terça-feira (30), em um novo esforço para dispersar os manifestantes pró-Palestina. Ao todo, cerca de 300 pessoas foram presas na instituição e na City College of New York, segundo o prefeito da cidade, o democrata Eric Adams.

Imagens de TV da imprensa local mostraram um grupo de agentes de uma unidade de choque, equipados com capacetes e cassetetes, entrando em Columbia, universidade no distrito de Manhattan que tem sido o epicentro dos protestos estudantis que se espalharam por dezenas de instituições de ensino nos EUA.

Unidade de choque da polícia de Nova York entra pela janela em prédio da Universidade Columbia invadido por manifestantes pró-Palestina - Bing Guan - 30.abr.24/The New York Times

"Estamos limpando tudo", gritava a polícia enquanto marchava até a entrada do prédio, onde mais cedo o grupo de ocupantes havia construído barricadas com a mobília da própria unidade. Curiosamente, a ação ocorreu no mesmo dia em que, em 1968, a polícia de Nova York também entrou no campus e prendeu centenas de manifestantes que ocupavam prédios da instituição.

Depois de duas semanas de acampamentos, um grupo invadiu um dos prédios da instituição durante a madrugada, horas depois de a universidade ter estabelecido um prazo para que eles desmontassem as barracas erguidas em protestos pró-Palestina no campus.

Segundo o jornal New York Times, a polícia usou a escada de um caminhão utilizado em serviços de emergência para entrar por uma das janelas do Hamilton Hall. O histórico edifício acadêmico, invadido pelo grupo de manifestantes, havia sido rebatizado por eles de Hind Hall, em homenagem a Hind Rajab, uma criança palestina de seis anos que morreu em decorrência da guerra Israel-Hamas.

Ainda de acordo com informações do jornal americano, vários estudantes foram vistos sendo retirados do prédio com as mãos atadas com braçadeiras. "Libertem a Palestina", gritavam os manifestantes do lado de fora do prédio, em uma cena iluminada pelas luzes vermelhas e azuis dos veículos policiais. Eles não ofereceram resistência e foram levados do perímetro de Columbia em um ônibus da polícia, sob vaias dos manifestantes que seguiam do lado de fora da universidade.

Por volta das 23h no horário local (0h de Brasília), a polícia afirmou que todas as pessoas do prédio haviam sido retiradas e que não havia mais ninguém no acampamento. "As únicas coisas que sobraram são as barracas e os pertences [dos manifestantes]", disse Carlos Nieves, porta-voz do Departamento de Polícia de Nova York.

"Columbia se orgulhará desses estudantes em cinco anos", disse Sueda Polat, uma das negociadoras estudantis da Columbia University Apartheid Divest, a coalizão de grupos estudantis que organizou os protestos. Ela afirmou que os estudantes não representavam perigo e pediu que a polícia recuasse, enquanto os agentes gritavam para ela deixar o campus.

Pouco depois do início da operação policial, a instituição divulgou um comunicado no qual lamenta "que os manifestantes tenham escolhido agravar a situação por meio de suas ações".

"Depois que a universidade soube durante a noite que o Hamilton Hall tinha sido ocupado, vandalizado e bloqueado, ficamos sem escolha. Não arriscaremos a segurança de nossa comunidade ou o potencial de uma nova escalada", acrescentou a universidade, cuja reitora, Minouche Shafik, requisitou à polícia que mantenha presença no campus ao menos até o próximo dia 17 —dois dias após uma cerimônia de formatura.

Shafik disse ainda que os manifestantes do acampamento estavam suspensos por invasão. A universidade havia alertado anteriormente que os estudantes que participassem da ocupação de Hamilton Hall enfrentariam expulsão.

Quando amanheceu nesta terça, o campus estava em clima de tensão e fechado para quase todos, a não ser para os alunos residentes em dormitórios e para funcionários essenciais ao funcionamento do campus.

Em ambas as entradas principais da universidade, na altura da rua 116 com as avenidas Broadway e Amsterdam, os grupos se juntavam para entoar palavras de ordem em apoio aos ocupantes do Hamilton Hall. Durante a manhã, no portão da Broadway, um grupo pequeno cantava pela libertação da Palestina, "viva a Intifada", e pelo fim dos investimentos da universidade em Israel. Logo a ação mudou para o lado leste do campus, onde fica o Hamilton Hall.

Isso porque, pouco antes do meio-dia, no horário local, um grupo de encapuzados desfraldou duas bandeiras nas janelas do segundo andar, de frente para a avenida Amsterdam. Uma dizia "Palestina Livre" e outra homenageava Manuel "Tortuguita" Paez Teran, um estudante morto pela polícia na Geórgia em 2023 durante outro protesto, este contra a construção de um centro de treinamento para policiais em Atlanta. Ao longo da tarde, outro dos ocupantes periodicamente subia ao terraço para agitar uma bandeira da Palestina.

Cartazes colocados nas janelas de prédio da Universidade Columbia com inscrição 'Palestina Livre' e em memória de um estudante morto pela polícia na Geórgia - Natasha Madov - 30.abr.24/Folhapress

Os manifestantes também usaram mesas para formar barricadas na entrada do edifício. Muitos estudantes usavam capacetes, óculos de segurança e máscaras. Uma estudante usou um martelo para quebrar parte do vidro de uma porta.

O Columbia University Apartheid Divest convocou pelo Instagram um protesto maior para as 14h, mas que só começou mesmo às 16h. Em menos de uma hora, um grupo com mais de 400 pessoas chegou. A maior parte usava lenços palestinos, máscaras cirúrgicas e óculos escuros, como uma forma de evitar a identificação.

Um casal de vendedores ambulantes cobrava de US$ 5 a US$ 12 por bandeiras palestinas, dependendo do tamanho; os lenços, chamados keffiyehs, custavam US$ 35. Mas havia um aviso para os interessados: os pretos esgotaram, só sobraram os vermelhos.

O coro do lado de fora era puxado por um grupo do lado de dentro do campus, que usava um microfone e uma caixa de som, com palavras de ordem semelhantes, mas também clamando pela abertura do campus. A essa altura, já se podia ouvir os helicópteros da polícia rondando ao alto.

O grupo interno pausou a cantoria e aproveitou a atenção da imprensa para discursar, mas foi interrompido por outro grande grupo que chegou com placas e mais cantoria, dobrando o protesto de tamanho.

No início da noite, o Departamento de Polícia de Nova York e Adams, o prefeito da cidade, disseram que "agitadores externos" estavam agravando os protestos e influenciando as ações dos estudantes.

Em uma entrevista coletiva no fim da tarde, Adams e a vice-comissária de inteligência e contraterrorismo Rebecca Weiner disseram que alguns dos manifestantes envolvidos não são alunos da universidade e são conhecidos da polícia há anos. O comissário da polícia de Nova York afirmou que a corporação estava pronta para agir, caso a universidade pedisse ajuda.

"Não podemos e não permitiremos que o que deveria ser uma reunião pacífica se transforme num espetáculo violento. Não podemos esperar até que esta situação se torne ainda mais grave. Isto deve acabar agora", disse o prefeito.

Em uma entrevista coletiva nesta quarta (1º), Adams defendeu as prisões de quase 300 pessoas em campus de Nova York, elogiou a polícia e acusou os envolvidos no protesto de antissemitismo. Ele ainda disse que estrangeiros se infiltraram nos atos como parte de um suposto esforço global para "radicalizar jovens". Segundo o New York Times, as autoridades não nomearam esses estrangeiros que estariam envolvidos nos protestos e se recusaram a dizer quantos não eram estudantes.

"Eles estão tentando perturbar nossa cidade e não vamos permitir que isso aconteça", afirmou o prefeito, um ex-policial e apoiador de longa data de Israel. Segundo a polícia, foram presos 119 manifestantes em Columbia e 173 no City College of New York.

O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que a invasão do prédio representa uma "abordagem absolutamente errada" dos manifestantes. "Uma pequena porcentagem de estudantes não deveria ser capaz de interromper a experiência acadêmica e o estudo legítimo do restante do corpo discente. Os alunos que pagam para frequentar a universidade e querem estudar deveriam fazer isso sem interrupções", disse.

Na série de protestos, os manifestantes fazem três exigências principais: que a universidade se desconecte de empresas que apoiam as Forças Armadas de Israel, transparência nas finanças da universidade e anistia para os estudantes e professores punidos por suas participações nos atos.

A reitora, Shafik disse nesta semana que a Columbia não revisaria seus investimentos em empresas ligadas a Israel. Em vez disso, ela ofereceu investir em saúde e educação em Gaza e tornar mais transparentes os investimentos diretos da Columbia.

As manifestações pró-Palestina dos últimos dias provocaram intenso debate nas universidades. Estudantes que protestam contra a ofensiva militar em Gaza, incluindo ativistas judeus pela paz, dizem estar sendo censurados por meramente criticar o governo israelense ou expressar apoio aos direitos dos palestinos. Outros grupos, porém, argumentam que a retórica dos protestos é antissemita e, portanto, não deve ser tolerada.

Com The New York Times

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